Ânsia
De Sarah Kane
Tradução de
Roseli e Laerte Mello (Revisão Paula Lopes – Revisão Final Giana Maria
Gandini Gianni de Mello)
C – Você morreu pra mim.
B – Meu testamento diz, Foda com
tudo isso e eu vou te perseguir pro resto da porra da tua vida.
C – Ele tá me seguindo.
A – O que você quer?
B – Morrer.
C – Em algum lugar fora da
cidade, eu falei pra minha mãe, Você morreu
pra mim.
B – Não, não é isso.
C – Se eu pudesse me livrar de
você sem te perder.
B – Às vezes isso não é possível.
M – Eu vivo dizendo pra’s pessoas
que estou grávida. Eles perguntam Como isso aconteceu, o que você tá tomando?
Eu digo que bebi uma garrafa de vinho do
porto, fumei uns cigarros e trepei com um estranho.
B – Tudo mentira.
C – Ele precisa ter um segredo
mas acaba logo contando tudo. Ele acha que nós não sabemos. Acredite, nós
sabemos.
M – Uma voz no deserto.
C – Aquele que chega mais tarde.
M – Há uma coisa no caminho.
A – Ainda aqui.
C – Há três verões eu estava de
luto. Ninguém morreu mas eu perdi minha mãe.
A – Ela teve ele de volta.
C – Eu acredito em aniversários.
Que um estado de espírito pode ser repetido mesmo se o evento que o tenha
causado seja insignificante ou tenha sido esquecido. Nesse caso não é um nem
outro.
M – Eu envelhecerei e eu vou, ele
vai, alguma coisa
B – Eu fumo até ficar enjoado.
A – Preto sobre branco e azul.
C – Quando eu acordei eu
pensei minha menstruação deve ter
descido ou melhor não deve ter parado já que só terminou três dias atrás.
M – O calor salta de mim.
C – O coração salta de mim.
B – Não sinto nada, nada.
Não sinto nada.
M – É possível?
B – Como?
A – Não sou estuprador.
M – David?
(tempo)
B – Sim.
A – Sou pedófilo.
M – Lembra de mim?
(tempo)
B – Sim.
C – Parece alemão,
A – Fala como espanhol,
C – Fuma como sérvio.
M – Você esqueceu.
C – Todas as coisas para todos os
homens.
B – Não acho
M – É.
C – Não consegui esquecer.
M – Procurei você. Por toda a
cidade.
B – Não acho mesmo
M – É. É.
A – Acha sim.
M – Sim.
C – Por favor, pare com isso.
M – E agora te achei.
C – Alguém que morreu não está
morto.
A – E agora somos amigos.
C – A culpa não foi minha, nunca
a culpa foi minha.
M – Tudo que acontece é pra
acontecer.
B – Onde você estava?
M – Por aí.
C – Vá.
B – Onde?
C – Agora.
M – Lá.
A – É da natureza do amor desejar
um futuro.
C – Se ela tivesse partido –
M – Quero um filho.
B – Não posso te ajudar.
C – Nada disso teria acontecido.
M – O tempo está passando e eu
não tenho tempo.
C – Nada disso.
B – Não.
C – Nada.
A – No acostamento de uma estrada
saindo da cidade, ou talvez entrando, dependendo de onde você olha, uma
garotinha negra está sentada no banco de passageiros de um carro estacionado.
Seu velho avô abre o zíper da calça e tira ele pra fora, grande e roxo.
C – Não sinto nada, nada.
Não sinto nada.
A – E quando ela chora, seu pai
no banco traseiro diz Desculpe,
normalmente ela não é assim.
M – Já não estivemos aqui antes?
A – E apesar de ela não se lembrar ela não consegue esquecer.
C – E vem fugindo daquele momento
desde então.
B – Você virá me seduzir? Eu
preciso ser seduzido por uma mulher mais velha.
M – Não sou uma mulher mais
velha.
B – Mais velha do que eu, não uma
mulher velha.
C – Você se apaixonou por alguém
que não existe.
A – Tragédia.
B – É mesmo.
M – É, sim.
A – O que você quer?
C – Morrer.
B – Dormir.
M – Não mais.
A – E o motorista do ônibus fica doido, pára o ônibus no
meio da estrada, desce, tira sua roupa e caminha pela rua, com sua charmosa
bundinha brilhando ao sol.
B – Bebo até enjoar.
C – Todo lugar que vou, eu o
vejo. Eu sei o número da placa, eu conheço o carro, será que ele acha que eu
não reconheço?
A – Você nunca é tão poderoso
como quando você sabe que está sem
poder.
B – Eu tremo quando não tenho.
M – Sangrando.
B – Meu cérebro derrete quando
tenho.
M – Eu corri através do campo de
papoulas nos fundos da fazenda do meu avô. Quando entrei pela porta da cozinha,
eu o vi com minha avó em seu no colo. Ele a beijou na boca e acariciou seus
seios. Eles viraram e me viram, sorriram por me ver confusa. Quando dez anos
depois contei isso para minha mãe, ela me olhou de um modo estranho e disse.
“Isso não aconteceu com você. Aconteceu comigo. Meu pai morreu antes de você
nascer. Quando isso aconteceu eu estava grávida de você, mas eu só fui saber da
gravidez no funeral dele”.
C – Nós passamos essas mensagens.
M – Alguém em algum lugar chama
por mim, deseja a minha morte.
B – Meus dedos dentro dela, minha
língua na sua boca.
C – Eu queria viver comigo mesma.
A – Sem testemunhas.
M – E se isso não faz sentido
então você entendeu perfeitamente.
A – Não é assim que você pensa.
C – Não, não é.
M – Sempre a mesma desculpa de
merda.
C – SAI.
A – VOLTA.
Todos – FICA.
C – Não agüento mais isso.
A – Chocado.
B – Chapado.
M – Eu tenho um lado do mal, eu
sei. Tenho um lado invejoso que você nunca conhecerá.
B – Tome mais uma, fume outro
cigarro.
M – Às vezes o formato da minha
cabeça me impressiona. Quando vejo a sombra da minha cabeça refletida em uma
janela escura de trem, a paisagem passando através dela. Não que o formato da
minha cabeça seja incomum ou ... alarmante... mas realmente... me impressiona.
A – Por que você faz isso?
C – Eu acho isso alarmante.
M – Há tão pouco tempo.
C – Odeio o cheiro da minha
própria família.
B – Base 1.
Base 2.
Base 3.
Bingo.
C – Você vai cheirar melhor
quando estiver morto do que agora.
A – Uma americana traduziu um
romance do espanhol para o inglês. Ela pediu para seu colega espanhol dar uma
opinião sobre seu trabalho. A tradução estava muito ruim. Ele se ofereceu para ajudá-la e ela disse que
pagaria pelas horas que ele trabalhasse. Ele recusou. Ela se ofereceu para
levá-lo para jantar. Isso para ele era aceitável e ele concordou. Mas ela
esqueceu. O espanhol ainda está esperando o jantar.
B – Money comes alone.
C – Sozinho.
M – Se o amor chegasse.
B – Não sou eu.
A – Alguma vez já te ocorreu que
você está procurando no lugar errado?
M – Agora.
B – Nunca.
C – Não.
B – É muito legal. Você faz um
pra mim?
M – É feito de cascas de ovos e
concreto.
B – Você faz um pra mim?
M – Concreto, tinta e cascas de
ovos.
B – Não perguntei do que é feito,
perguntei se você me faria um.
M – Toda vez que como um ovo,
colo a casca ali e pinto com spray.
C – Ela vê através das paredes.
B – Você. Faz. Um. Pra. Mim.
C – Outras vidas.
A – A mãe bate em seu filho
selvagemente por ele ter corrido na frente de um carro.
M – Pare de pensar em você como
eu, pense em nós.
B – Vamos de uma vez pra / cama.
C – não não não não não não não
não não
A – Um desejo sob pressão.
C – Grite feito louco.
M – Não tire suas luvas até sair
da última cidade.
B – Você é lésbica?
M – Ah, por favor.
B – Acho que é por isso que você
não tem filhos.
A – Por quê?
M – Nunca conheci um homem em
quem eu confiasse.
C – Por que o quê?
B – Você confia em mim?
M – Isso não tem nada a ver com
você.
C – Por que o quê?
M – Não estou interessada em
você.
C – Por que o quê, por que o quê?
M – Não estou interessada em
merda nenhuma sobre você.
A – Não bebo. Odeio cigarro. Sou
vegetariano. Não saio fazendo besteiras por aí. Nunca sai com putas nunca tive
nenhuma doença sexualmente transmissível além de sapinho. Isso faz de mim, uma
raridade, um ser único.
B – Olhe.
C – Escute.
B – Olhe. Meu nariz.
M – O que é que tem.
B – O que você acha?
C – Quebrado.
B – Nunca quebrei nenhum osso de
meu corpo.
A – Como Cristo.
B – Mas meu pai, sim. Arrebentou
o nariz em uma batida de carro quando tinha dezoito anos. E eu sou assim.
Geneticamente é impossível, mas fiquei assim. Passamos essas informações mais
rápido do que pensamos e de maneiras que não achamos possíveis.
C – Se eu fosse
Se eu
Se eu fosse
M – DEPRESSA POR FAVOR ESTÁ NA
HORA
B – E você não acha que uma
criança concebida em um estupro sofreria muito?
C – Mas é o que é.
M – Você acha que vou te
estuprar?
C – Sim.
A – Não.
B – Sim.
M – Não.
A – Não.
B – Sim.
C – Sim.
M – É possível?
C – Não vejo mais nada de bom
em ninguém.
B – Tudo bem, eu era, legal, era,
legal legal. Era, legal, duas pessoas,
certo?
A – Legal.
B – Um dia desses,
C – Logo logo,
M – Agora.
A – Mas as aparências enganam.
B – Não sou eu.
A – O garotinho tinha uma amiga
imaginária. Ele a levou até a praia e eles brincaram no mar. Um homem veio da
água e a levou embora. Na manhã seguinte o corpo desfigurado de uma garota foi
encontrado na praia.
M – O que é que isso tem a ver?
A – Segurando um punhado de
areia.
B – Tudo.
C – O que é que qualquer coisa
tem a ver com qualquer coisa?
M – Nada.
A – Exatamente.
B – Isso é o pior de tudo.
M – Nada.
C - Isso é isso mesmo?
É isso?
M – Quanto tempo mais
B – Quantas vezes mais
A – Quanto mais
C – Corrupto ou inepto.
B – Não trago sorte pra ninguém.
A – Sinto muito.
C – Vá embora.
M – Agora.
C – Vá embora.
B – Sinto muito.
C – Vá embora.
A – Desculpe, desculpe, desculpe,
desculpe, desculpe, desculpe, desculpe.
C – Do quê?
M – Você já estuprou alguém?
A – Desculpe estou seguindo você.
B – Não.
M – Por que não?
A – Tem coisas piores do que ser
gordo e ter cinqüenta anos.
M – Por que não?
A – Estar morto e ter trinta.
M – Eu sou o tipo de mulher de
quem as pessoas falam Quem era aquela mulher?
A – A questão é Onde você mora e
onde você quer morar?
M – A ausência repousa entre
edifícios à noite.
C – Não morra.
B – Esta cidade, amo essa porra,
não moraria em outro lugar, não conseguiria.
M – Onde você a encontra?
C – Onde eu começo?
A – Um japonês apaixonado pela
sua namorada virtual.
B – Você até que parece feliz pra
quem não está.
M – Onde eu paro?
A – Espadas em turbilhões.
B – Aqui.
C – Procuro por um tempo e lugar
livres de coisas que andem de quatro, voem ou piquem.
M – Dentro.
A – Daqui.
M – Tomara que seja ele.
C – Se ela tivesse partido –
M – Não quero ficar velha e fria
e não ter dinheiro nem para tingir o cabelo.
C – Você recebe mensagens
confusas porque tenho sentimentos confusos.
M – Não quero estar vivendo numa
pensão aos sessenta anos, com medo de ligar o aquecedor e não poder pagar a
conta.
C – O que me amarra à você é a
culpa.
M – Não quero morrer sozinha e só
ser encontrada quando meus ossos estiverem limpos e o aluguel vencido.
C – Não quero ficar.
B – Não quero ficar.
C – Quero que você vá.
M – Se o amor chegasse.
A – Deixe acontecer.
C – Não.
M – Está me deixando pra trás.
B – Não.
C – Não.
M – Sim.
B – Não.
A – Sim.
C – Não.
M – Sim.
B – Me deixa ir.
C – Não quero mais ter que
comprar presentes de Natal pra você.
B – Só um nome já seria legal.
M – Você é muito ingênuo se acha
que ainda tem aqueles tipos de escolha.
B – Minhas costas doem.
C – Minha cabeça dói.
A – Meu coração dói.
M – Você não devia dormir perto
do aquecedor.
B – Onde eu devia dormir?
M – Você quer uma massagem?
C – Não me toque.
M – Eu não devia estar fazendo
isso.
A – Um toque.
B – Você vai se meter em
encrenca?
A – Um ato isolado.
M – Não, eu... não posso me
prender.
A – É natural.
B – Ver outro ser humano em
perigo.
C – Eu sinto
Só sinto
M – Você me pediu pra te seduzir.
B – Não me amarre.
A – Seja grato.
C – Quando criança eu gostava de
fazer xixi no tapete. O tapete apodreceu e eu culpei o cachorro.
M – Sou incapaz de conhecer você.
C – Não queira me conhecer.
M – Completamente indecifrável.
A – Ainda estou aqui.
M – Preciso de um filho.
B – Só isso?
C – É tudo.
M – Isso é tudo.
B – Meni ni iz dzepa, ni u dzep.
C – Mãe.
A – O rei está morto, longa vida
ao rei.
B – Se pudesse ser um ato de
amor.
C – Não consigo lembrar
B – De quem
C – Não mais
A – Por que você acha que é
assim?
C – Minha mente tá vazia.
M – Por que você tá rindo?
C – Alguém morreu.
B – Você acha que eu tô rindo?
M – Por que você tá chorando?
C – Você morreu pra mim.
B – Você acha que eu tô chorando?
C – Vou chorar se você rir.
B – Você podia ser minha mãe.
M – Não sou sua mãe.
A – Querida.
M – agora agora agora agora agora
agora agora
C – Eu sou uma complicação
desnecessária?
B – Um viciado esporádico.
A – Ninguém além de você.
B – Viciado em doença.
A – Não é você, sou eu.
C – Sou sempre eu.
A – Quero dormir ao seu lado e
fazer suas compras e carregar suas sacolas e dizer o quanto eu amo estar com
você apesar deles continuarem me obrigando a fazer coisas estúpidas.
M – Não sou eu, é você.
B – Uma porra sem pé nem cabeça.
M – Cartão de ponto.
C – Seis meses de plano.
A – E quero brincar de
esconde-esconde e dar minhas roupas para você e dizer que eu gosto dos seus
sapatos e sentar nos degraus enquanto você toma banho e massagear seu pescoço e
beijar seus pés e segurar a sua mão e sair para jantar e não me importar quando
você comer minha comida e encontrar você no Rudy e falar sobre o dia e digitar
suas cartas e carregar suas caixas e rir da sua paranóia e te dar fitas que
você não vai ouvir e assistir a belos filmes e assistir a filmes horríveis e
reclamar do rádio e tirar fotos de você quando você estiver dormindo e levantar
para te levar o café e pãezinhos e geléia e ir ao Florent e tomar café à
meia-noite e deixar você roubar meus cigarros e nunca achar os fósforos e
contar pra você sobre o programa de TV
que eu vi na noite passada e te levar ao oculista e não rir das suas piadas e
querer você de manhã mas deixar você dormir mais um pouco e beijar suas costas
e acariciar sua pele e dizer quanto eu amo seu cabelo seus olhos seus lábios
seu pescoço seus peitos sua bunda sua
e sentar nos degraus e fumar até
seu vizinho chegar em casa e sentar nos degraus e fumar até você chegar
em casa e me preocupar quando você estiver atrasada e me surpreender quando
você chegar mais cedo e te dar girassóis e ir à sua festa e dançar até não poder mais e me desculpar quando eu
estiver errado e ficar feliz quando você me perdoar e olhar suas fotos e querer
ter te conhecido desde que você nasceu e ouvir sua voz no meu ouvido e sentir
sua pele na minha pele e ficar assustado quando você estiver zangada e um de
seus olhos ficar vermelho e o outro azul e seu cabelo cair para a esquerda e
seu rosto parecer oriental e dizer para você que você é linda e te abraçar
quando você estiver ansiosa e segurar você quando você se machucar e querer
você toda vez que eu te cheirar e te ofender quando te tocar e choramingar
quando estiver do seu lado e choramingar quando não estiver e babar nos seus
seios e cobrir você de noite e sentir frio quando você tirar meu cobertor e
calor quando você não tirar e me derreter quando você sorrir e me acabar por
completo quando você gargalhar e não entender por que você acha que estou te
rejeitando quando eu não estou te rejeitando e pensar como você pôde achar que
alguma vez te rejeitei e pensar em quem você é e te aceitar de qualquer jeito e
te falar sobre o garoto da floresta encantada que atravessou o oceano porque te
amava e escrever poemas para você e pensar por que você não acredita em mim e
sentir tão profundamente que eu não ache palavras pra expressar esse sentimento
e querer te comprar um gatinho do qual eu teria ciúmes porque ele teria mais
atenção do que eu e deixar você ficar na cama quando você tiver que ir e chorar
como um bebê quando você finalmente for e me livrar das pontas e te comprar
presentes que você não queira e levá-los de volta e pedir para você casar
comigo e ouvir você dizer não mais uma vez mas continuar pedindo porque
apesar de você achar que eu não estava falando sério eu sempre falei sério
desde a primeira vez que te pedi em casamento e vagar pela cidade achando que
ela está vazia sem você e querer o que você quer e achar que estou me perdendo
mas saber que estou seguro quando estou com você e te contar o que eu tenho de
pior e tentar te dar o que eu tenho de melhor porque você não merece nada menos
do que isso e responder suas perguntas quando eu preferir não responder e dizer
a você a verdade mesmo quando eu realmente não queira e tentar ser honesto
porque eu sei que você prefere assim e achar que está tudo acabado mas agüentar
por mais dez minutos antes de você me jogar fora de sua vida e esquecer quem eu
sou e tentar ficar mais próximo de você
porque é lindo aprender a te conhecer e vale a pena o esforço e falar mal
alemão com você e falar hebraico pior ainda e fazer amor com você às três da
manhã e de alguma forma de alguma forma de alguma forma expressar um pouco
deste esmagador embaraçoso interminável excessivo insuportável incondicional
envolvente enriquecedor-de-coração ampliador-de-mente progressivo infindável
amor que eu sinto por você.
C – (Sussurrando até A parar de
falar) isso tem que parar isso tem que parar isso tem que parar isso tem que
parar isso tem que parar isso tem que parar isso tem que parar isso tem que
parar isso tem que parar (Depois em volume normal.) isso tem que parar isso tem
que parar isso tem que parar
A – Eles não entendem? Tenho
coisas importantes pra fazer.
C – Está ficando pior.
A – Estou perdido, fodidamente
perdido nessa zona que é a mulher.
B – Ela quer um filho pra ontem.
A – O que eu farei quando você me
jogar fora?
C – Escute.
B – Olhe.
C – Escute. Estou aqui pra
lembrar. Eu tenho que... lembrar. Eu sinto essa amargura e não sei por quê.
A – Você é sempre tão linda, mas
fica ainda mais linda quando goza.
C – Aquela criança violenta
aterrorizada paralisada.
A – Quando ela fica com muita
muita raiva ela vai tirando a roupa e conforme a raiva vai diminuindo é menos
provável que ela me deixe chegar perto
dela .
B – Eu tenho um mau mau presságio
sobre esse mau mau presságio.
A – Estou tão sozinho, tão
fodidademente sozinho.
C – Eu não conseguia
A – Eu não consigo
C – Entender
M – Controle, controle, relaxe e
controle.
A – É por essa mulher de olhos
desolados que eu morreria.
C – O cabelo dela é branco, mas
por alguma razão – talvez porque o cabelo dela seja branco – eu não tenho idéia
da idade dela.
M – Paisagens ensolaradas.
Paredes pastéis. Suave ar- condicionado.
A – Eu continuo tentando entender
mas não consigo.
C – Olho para a grande almofada
de lona bege, tento fazer conexão, tento decifrar a mim mesma enroscada em um
limpo tecido branco.
A – Quando isso pára?
C – E então na almofada verde,
uma meticulosamente inapropriada almofada para representar qualquer parte
minha, especialmente as partes que estou mostrando à ela.
M – Você tem dificuldades em
relacionamentos com homens?
A – ocupado feliz ocupado feliz
ocupado feliz
M – Você tem
relacionamentos com homens?
B – A única coisa que eu queria dizer eu já disse, e é uma
merda de um tédio falar de novo, não interessa o quanto de verdade tem nisso,
não interessa que o pensamento seja o único que a humanidade tem.
A – COMO É QUE VOCÊ PODE ME
DEIXAR DESSE JEITO?
C – Minha amargura não tem nada a
ver com homens. Estou tendo um esgotamento nervoso porque vou morrer.
A – Muito antes de eu ter tido a
chance de adorar tudo em você, eu adorei as pequenas partes de você que eu pude
ver.
B – A mulher com olhos de dragão.
A – Azul no verde.
C – Tudo azul.
A – Eu não tenho música, Deus do
céu como eu queria ter música, mas tudo que tenho são palavras.
B – Du bist die Lieb meines
Lebens.
A – Não me desligue.
B – Algo dentro de mim chuta feito um filho da puta.
C – Uma dor chata no meu plexo
solar.
B – Uma piada por uma tragada.
M – Você já foi hospitalizado?
A – Dor por associação.
C – Preciso de um milagre para me
salvar.
M – Pra quê?
A – Insanidade.
C – Anorexia. Bulimia.
B – O que seja.
C – Não.
M – Nunca.
C – Desculpe.
A – A verdade é simples.
C – Sou má, estou acabada, e
ninguém pode me salvar.
A – A morte é uma opção.
B – Tenho nojo de mim mesmo.
C – A depressão é inadequada. Um
colapso emocional de escala máxima é o mínimo necessário para deixar todo mundo
mal.
A – A saída do covarde,
C – Não tenho coragem.
B – Eu penso em você
A – Sonho com você
B – Falo sobre você
A – Não consigo tirar você do meu
sistema.
M – Tudo bem.
B – Eu gosto de você no meu
sistema.
M – Não precisa de nenhuma
performance.
C – Uma bela manhã do mês de
maio.
B – Não não é isso.
C – Você podia ser minha mãe.
M – Não sou sua mãe.
C – Carrego essa culpa e não sei
por quê.
A – Só o amor podia me salvar e o
amor me destruiu.
C – Um campo. Um porão. Uma cama.
Um carro.
B – Em um ou dois dias irei
voltar para outro affair, apesar do affair agora estar tão durável que quase
constitui um relacionamento.
M – Continue.
B – Se você não quer que eu
venha, eu não virei. Pode falar, eu não me importo. Quero dizer, eu me importo,
mas é melhor que você diga. Então eu saberei. Então.
M – Além da palidez.
A – Além da dor.
M – Escolha, foque, aplique.
B – Eu sonho em ter minhas
oportunidades.
C – Eu compro um novo toca-fitas
e fitas virgens.
B – Sempre faço isso.
C – Eu tenho umas velhas que
funcionarão perfeitamente bem, mas a verdade tem pouco a ver com a realidade, e
a questão (se é que há alguma) é gravar
a verdade.
A – Estou tão cansado.
C – Eu anseio por branco no
branco e preto, mas meus pensamentos correm em glorioso tecnicolor,
incitando-me a ficar acordada, arrancando a quente coberta de invisibilidade
toda vez que jura encher minha mente com nada.
A – A maioria das pessoas,
B – Se vira,
A – Levanta,
B – Se vira.
A – Meu coração vazio está cheio
de escuridão.
C – Um toque e grava.
M – Cheio de vazio.
B – Satisfeito com nada.
A – Um toque.
M – Grava.
C – Minhas entranhas se enroscam
ao toque dele.
A – Pobre, pobre amor.
C – Não sinto nada, nada.
Não sinto nada.
B – Voltei.
C – Se ela tivesse partido –
A – Vou morrer.
M – Esse abuso já foi longe
demais.
C – Larvas por todo lado.
B – Não tem ninguém como você.
C – Sempre que eu olho algo bem
de perto, a coisa se mexe como uma massa de larvas brancas.
A – Pretas são acrescentadas à
massa.
C – Eu abro minha boca e eu
também estou cheia delas, caindo pela minha garganta.
B – Alguma coisa aconteceu.
A – Tão chocante.
C – Tento colocá-la pra fora mas
ela fica maior e maior, não tem fim. Eu a engulo e finjo que ela não está lá.
B – Imperceptivelmente devagar e
em um instante.
A – Nada de espetacular.
B – Eu continuo voltando.
A – Um horror tão profundo que só
um ritual pode contê-lo,
M – Expressá-lo,
B – Explicá-lo,
A – Mantê-lo.
B – Witches kisses that kill me.
C – O uniforme de algodão
azul-marinho que eu usei aos seis anos de idade, o cinto de elástico azul e
vermelho apertado ao redor da minha cintura, as meias de nylon, as cascas de
feridas dos machucados nos joelhos, o trepa-trepa no qual subíamos pra
brincar, David –
A – NÃO.
M – Não consigo te amar porque
não consigo te respeitar.
C – Recomeçar do zero, amor
longo.
M – Eu estava pra pegar um avião.
Um médium previu que eu não pegaria o avião mas que a pessoa que eu amava, iria
pegar. O avião cairia e ele morreria. Eu não sabia o que fazer. Se eu perdesse
o vôo eu estaria alimentando a profecia e arriscando a vida do meu amado. Mas
para quebrar a profecia eu teria que pegar o avião que parecia estar
predestinado a cair.
A – O que você fez?
M – Comece outra vez.
A – Comece outra vez.
C – Um arbusto roxo arranhando
minhas pernas.
A – Qualquer coisa menos isso.
C – Um lindo loiro de catorze
anos, os dedões enganchados no seu jeans que mostrava parte de sua bunda, seus olhos azuis azuis
cheios de sol.
B – Estou enojado, cara, não
agüento mais essa porra.
A – O que é que você fez?
B – Nada, nada, não fiz nada.
M – Nada disso interessa
simplesmente porque não estou apaixonada por você.
A – E estou tremendo, chorando
copiosamente por causa das lembranças que tenho dela, de quando ela me amava,
antes de eu ser o torturador dela, antes de não haver espaço pra ela dentro de
mim, antes de nos desentendermos, na verdade na primeira vez que eu a vi, seus
olhos estavam sorrindo e cheios de sol, e eu estremeço de mágoa por aquele
momento do qual venho fugindo desesperadamente desde então.
B – Comece outra vez, comece
outra vez.
M – Mexa-se.
A – Olho os seios dela,
C – Um balão de leite,
M – Mais cedo ou mais tarde,
C – Uma bolha de sangue,
B – De um jeito ou de outro,
C – Golfando sangue,
B – Aquilo vai entrar na minha
boca,
C – Um sangue grosso e amarelo,
A – Minha dor não é nada
comparada com a dela.
C – mas mas mas
A – (e isso é crucial)
B – Não diga não para mim.
C – Eu continuo voltando.
B – Você tem esse efeito.
M – Você não consegue dizer não.
A – Anjo negro divino.
C – Não é ele que eu quero.
A – Sinto uma puta falta de você.
C – É a minha virgindade.
B – Puta falta que eu sinto de
você.
C – Um cara de catorze anos tirou
minha virgindade em um descampado e me
estuprou até eu gozar.
M – Um dia desses
B – Logo logo
A – Amo você até lá
M – (e depois?)
C – Eu tive filhos, os homens
vieram, luto mas eles os levam, eu percebo, os homens, eles vieram, disseram,
durante a noite, disseram
A – não diga não pra mim você não
pode dizer não pra mim porque é tamanho o alívio amar de novo e deitar na cama
e ser abraçado e tocado e beijado e adorado e seu coração saltará quando você
ouvir minha voz e vir meu sorriso e sentir minha respiração no seu pescoço e
seu coração vai disparar quando eu quiser te ver e eu mentirei pra você desde o
primeiro momento e usarei você e penetrarei em você e partirei seu coração
porque você partiu o meu primeiro e você me amará mais a cada dia até que o
peso desse amor seja insuportável e sua vida seja minha e você morrerá sozinha
porque eu levarei o que eu quero então irei embora sem dever nada à você está
sempre lá sempre esteve lá e você não pode negar a vida que você acha que é
foda foda-se a vida foda-se a vida
foda-se a vida agora que eu te perdi
C – ME PEGOU
B – Agora que eu te encontrei
posso parar de me procurar.
C – Ela tocou meu braço e sorriu.
B – Um daqueles rostos que nunca
pude imaginar.
A – Demos entrada em um hotel
fingindo que não íamos fazer sexo.
C – Olhos, sussurros, trevas e
sombras.
M – Onde você vai com quem está
saindo o que você está fazendo?
B – Jebem radoznale.
A – Eu tenho que estar onde quero
estar.
M – Não posso ter isso outra vez.
A – Fizemos amor, depois ela
vomitou.
C – Ninguém pra me ajudar nem a
porra da minha mãe.
A – Cruzei dois rios e chorei à
beira de um.
M – Fecho meus olhos e a vejo fechar
os olhos e ela te vê.
A – O grito de uma narciso dos
prados,
M – A mancha de um grito.
C – Vi meu pai bater na minha mãe
com uma bengala.
A – Uma mancha,
C – Um eco,
A – Uma mancha.
B – Sinto muito por você ter
visto isso.
C – Sinto por ele ter feito isso.
A – Eu me desespero de desespero.
M – Sem arrependimento.
A – Eu juro que eu não suporto
olhar pra você.
C – Não fiz nada, nada.
B – Eu não fiz nada.
C – Eu quero me sentir
fisicamente como me sinto emocionalmente.
Faminta.
M – Espancada.
A – Quebrada.
C – Ele me compra um kit de
maquiagem, blush e batom e sombra. E eu pinto meu rosto com hematomas e sangue
e cortes e inchaços, e no espelho em vermelho intenso escrevo, FEIA.
A – A morte é minha amante e ela
quer se mudar pra dentro de mim.
B – O que significa isso, o que
significa isso, o que significa isso o que você está dizendo?
C – Seja mulher, seja mulher, VÁ
SE FODER.
M – Não é nada lisonjeador ser
desejada quando a outra pessoa está tão bêbada que nem consegue ver.
B – Vá se foder.
C – Eu tentei explicar que eu não
quero dormir com alguém que não apreciará o quanto foi difícil pra mim a manhã
seguinte, mas ele desmaiou antes que eu terminasse minha frase.
M – QED.
C – Ainda dorme com o Papai.
A – O jogo que jogamos,
M – As mentiras que dizemos.
B – Seu cabelo é um ato de deus.
A – Uma vietnamita, o significado
e a permanência de toda sua existência nos trinta segundos em que ela fugia da
sua vila, com a pele derretendo, boca aberta.
C – Ninguém consegue me odiar mais do que eu odeio a mim mesma.
A – Eu não sou o que sou, sou o
que faço.
M – Isso é terrível.
C – Isso é verdade.
A – Aquilo que jurei que nunca
faria, aquilo que jurei –
M – Toda aquela dor
C – Para sempre
B – Até agora.
A – Pela vida dos meus filhos, pelo amor dos meus
filhos.
M – Por que você bebe tanto?
B – Porque os cigarros não estão
me matando com a rapidez necessária.
C – Minha gargalhada é uma bolha
de desespero.
M – Regra um.
C – Nada de gravações.
M – Nada de cartas.
A – Nada de contas de cartões de
crédito cobrando por tardes em quartos de hotéis, nada de recibos de jóias
caras, nada de ligar em casa e desligar sem falar nada.
C – Sem sentimentos,
B – Sem emoção,
M – Uma trepada fria e uma
memória de peixe de aquário.
C – Minhas entranhas desistiram.
A – Pulsando entre vergonha e
culpa.
C – Confusão. Confusão.
A – Ela sabe.
B – Não sou eu.
A – Nunca guarde souvenirs de um
assassinato.
M – Está tudo claro.
C – Outra garota,
B – Outra vida.
C – Não fiz nada, nada.
B – Não fiz nada.
M – Além da palidez.
A – Deus me perdoe quero estar
limpo.
C – Ele grita comigo pra ver no
que eu me tornei.
M – Continue.
C – Por que ninguém faz amor
comigo do jeito que eu quero ser amada?
M – Eu podia ser sua mãe.
B – Você não é minha mãe.
M – Logo logo.
B – Agora.
C – Eu já fingi ter orgasmos
antes, mas essa foi a primeira vez que fingi não ter tido um orgasmo.
A – Por debaixo da porta vaza uma
poça negra de sangue.
M – Por quê?
C – O quê?
B – Por quê o quê?
A – O quê?
M – Quando ele é generoso,
gentil, atencioso e feliz, eu sei que ele está tendo um caso.
C – Ele pensa que somos burras,
ele acha que nós não sabemos.
M – Uma terceira pessoa na minha
cama de quem o rosto me foge da memória.
B – Só eu,
A – Do jeito que eu sou,
C – Nada a ser feito.
M – Dar, compartilhar, controlar.
B – Agora.
C – Tão cansada de segredos.
M – Não sou eu.
C – Ela está neste momento tendo
algum tipo de esgotamento nervoso e queria ter nascido negra, homem e mais
atraente.
B – Eu me dou.
C – Ou só mais atraente.
B – Eu dou meu coração.
C – Ou só diferente.
M – Mas isso não é dar de
verdade.
C – Ou só ser a porra de uma
outra pessoa.
A – Frágil e engasgada.
C – Ela pára com a farsa diária
de passar as próximas horas tentando evitar o fato de que ela não sabe como
passar os próximos quarenta anos.
A – Ainda amo você,
B – Mesmo sem eu querer.
C – Ela está falando dela mesma
na terceira pessoa porque a idéia de ser quem ela é, de reconhecer que ela é
ela mesma, é mais do que seu orgulho pode suportar.
B – Com uma puta força.
C – Ela está de saco cheio dela
mesma e quer porque quer porque quer que alguma coisa aconteça para que a vida
comece.
A – Sou uma pessoa muito mais
agradável desde que tive um caso.
C – Você só pode se matar se você
já não estiver morto.
M – A culpa faz isso.
A – Porque agora eu sei que
traição não significa nada.
C – Duas mulheres aos pés da
cruz.
B – Uma flor se abre no calor do
sol.
A – Um rosto gritando dentro do
nada.
B – É real, é real, totalmente
real, totalmente real.
M – Uma imagem particular que não
consigo decifrar,
A – Além da minha compreensão,
C – Além da minha
A – Além
B – Há uma diferença entre
articulação e inteligência. Eu não consigo articular a diferença mas tem.
M – Vazio.
A – Adoentado.
C – Branco.
B – Me ame.
A – A culpa permanece como o
cheiro da morte e nada pode me libertar dessa nuvem de sangue.
C – Você matou minha mãe.
A – Ela já estava morta.
M – Se você quer que eu abuse de
você, eu abusarei.
A – Ela morreu.
B – As pessoas morrem.
M – Acontece.
C – Minha vida inteira é esperar
pela pessoa pela qual estou obcecada, definhando semanas afora até nosso
próximo encontro de quinze minutos.
A – MNO
C – Escrevo a verdade e ela me
mata.
B – Na fuga.
M – Sem onde esconder.
C – Odeio essas palavras que me
mantêm viva
Odeio essas palavras que não me deixam
morrer
B – Expressar minha dor sem
diminuí-la.
C – Ha ha ha
B – Ho ho ho
M – He he he
C – Não aceito ser eu mesma.
A – Você está enlouquecendo sob
meus olhos.
M – Perdeu o controle
silenciosamente.
B – Me deixe.
M – Ir.
A – Uma garotinha foi ficando
cada vez mais paralisada com as freqüentes e violentas brigas de seus pais. Às
vezes ela ficava horas completamente parada no banheiro, simplesmente porque
era lá que por acaso ela estava quando a briga começou. Finalmente, nos
momentos de calma, ela pegava garrafas de leite da geladeira ou da porta e as
deixava em lugares onde mais tarde ela poderia ficar presa. Seus pais não
conseguiam entender porque achavam garrafas de leite azedo em todos os lugares
da casa.
M – Por quê?
C – O quê?
B – Por que o quê?
C – O quê?
M – Por que você está chorando?
A – Não há novidade aqui.
B – Você foi tão persistente.
C – Sou sempre eu.
M – Você sempre soube disso.
B – Está fora de controle.
C – Como eu te perdi?
A – Você me jogou fora.
C – Não.
M – Sim.
B – Não.
A – Sim.
B – Não.
C – Não.
A – Sim.
(Tempo)
B – Não.
C – Não.
M – Sim.
B – Não.
C – Não.
A – Sim.
C – Não.
(Tempo)
A – Sim.
C – Não.
B – Não.
M – Sim.
A – Sim.
M – Sim.
C – (emite um pequeno grito de
uma sílaba)
(Tempo)
C – (emite um pequeno grito de
uma sílaba)
B – (emite um pequeno grito de
uma sílaba)
M – (emite um pequeno grito de
uma sílaba)
B – (emite um pequeno grito de
uma sílaba)
A – (emite um pequeno grito de
uma sílaba)
M – (emite um pequeno grito de
uma sílaba)
C – (emite um pequeno grito de
uma sílaba)
(Tempo)
M – Se você não falar, não posso
te ajudar.
B – Esse lugar.
C – ES3.
A – Sou o animal no fim da corda.
C – Silêncio ou violência.
B – A escolha é sua.
C – Não encha meu estômago se
você não pode encher meu coração.
B – Você enche minha cabeça como
só alguém que não está aqui pode encher.
M – Julgamento deteriorado,
disfunção sexual, ansiedade, dores de cabeça, nervosismo, insônia, agitação,
náuseas, diarréia, coceira, tremedeira, suor,
espasmos.
C – É disso que estou sofrendo a
partir de agora.
M – Tudo bem.
B – Não vai importar.
A – Não importa.
C – Me humilhe ou me interne.
A – Ninguém sobrevive à vida.
C – Ninguém sabe como é a noite.
M – Nunca te ocorreu de você
estar no lugar errado?
C – Não.
B – Nunca.
A – Não.
C – Se eu morrer aqui fui
assassinada pela programação diurna da televisão.
A – Menti pra você e é por isso
que não consigo te amar.
M – Não exija,
A – Não suplique,
B – Aprender, aprender, por que
não consigo aprender?
C – Eles acendem a luz de hora em
hora pra checar se ainda estou respirando.
B – De novo.
C – Eu digo a eles que privação
de sono é uma forma de tortura.
B – De novo e de novo.
M – Se você cometer suicídio você
terá que voltar e passar por tudo isso de novo.
B – A mesma aula, de novo e de
novo.
A – Não matarás a ti mesmo.
C – A vaidade, não a sanidade,
vai me manter ilesa.
M – Você já ouviu vozes?
B – Só quando elas falam comigo.
A – Almas exaustas com bocas
secas.
C – Não estou doente, só sei que
a vida não vale a pena ser vivida.
A – Perdi a fé na honestidade.
B – Perdi a fé em
M – Pra frente, pra cima,
adiante,
C – Perdida.
B – 199714424
M – Anda.
C – Eu não confio
M – Eu não ligo
C – Pra fora, na direção de quê?
A – Um puta buraco negro de
meio-amor.
M – Anda.
A – Eu odeio o consolado e o
consolador.
C – Eu tô muito mais puta do que
você imagina.
A – Não consigo confiar em você e
não consigo respeitar você.
C – Não sou mais honesta.
A – Você tirou isso de mim e não
consigo mais te amar.
M – De volta à vida.
C – Um estacionamento vazio de
onde eu não consigo sair.
B – O medo retumba sobre o céu da
cidade.
M – A ausência dorme entre os
edifícios à noite,
C – Entre os carros no
acostamento,
B – Entre o dia e a noite.
A – Tenho que estar onde devo
estar.
B – Deixe
C – Eu
M – Ir
A – O mundo lá fora está
supervalorizado.
(pausa)
C – Deixe o dia em que nasci perecer
Deixe
a escuridão da noite aterrorizá-lo
Deixe
as estrelas do seu amanhecer escurecerem
Que
ele não veja as pálpebras da manhã
Porque
ele não fechou a porta do útero de minha mãe
B – A coisa que me aterroriza me
pega de surpresa.
C – Odeio você,
B – Preciso de você,
M – Preciso mais,
C – Preciso mudar.
A – Toda previsível e doentia
futilidade que é o nosso relacionamento.
M – Quero uma vida de verdade,
B – Um amor de verdade,
A – Um amor enraizado e que
cresce na luz do dia.
C – O que ela tem que eu não
tenho?
A – A mim.
B – O que eu quero, eu quero com
você.
M – Não. Sou. Eu.
A – Não há segredos.
M – Há somente cegueira.
A – Você se apaixonou por alguém
que não existe.
C – Não.
M – Sim.
B – Não.
A – Sim.
C – Não.
B – Não.
M – Sim.
C – Eu sabia,
B – Eu sabia,
C – Por que eu não consigo
aprender?
A – Não vou aceitar uma vida no escuro.
B – Não olhe para o sol, não olhe
para o sol.
C – Eu amo você.
M – Tarde demais.
A – Está acabado.
C – (emite um som de desespero
sem forma)
(silêncio)
A – Não sabemos quando nascemos.
C – O que eles fizeram comigo? O
que eles fizeram comigo? O que eles fizeram comigo? O que eles fizeram comigo?
O que eles fizeram comigo? O que eles fizeram comigo? O que eles fizeram
comigo? O que eles fizeram comigo? O que eles fizeram comigo? O que eles
fizeram comigo? O que eles fizeram comigo? O que eles fizeram comigo? O que
eles fizeram comigo? O que eles fizeram comigo? O que eles fizeram comigo? O
que eles fizeram comigo? O que eles fizeram comigo?
M – Cresça e pare de culpar a
mãe.
A – A vida acontece.
B – Como as flores,
C – Como o raio de sol,
A – Como o cair da noite.
C – Um movimento que vai,
B – Não um movimento que vem.
A – A culpa não é minha.
C – Como se a direção fizesse
alguma diferença.
M – Ninguém sabe.
B – Meu coração está partido.
A – A culpa nunca foi minha.
M – Você continuou voltando.
B – Agora e para sempre.
A – Não estou mais lutando por você.
B – A visão.
M – A perda.
C – A dor.
A – A perda.
B – O ganho.
M – A perda.
C – A luz.
B – Se você morresse seria como
se removessem meus ossos. Ninguém saberia por quê, mas eu teria um colapso.
C – Se eu pudesse ficar livre de
você,
B – Se eu pudesse ser livre,
M – Não não é isso,
A – Não de jeito nenhum,
B – Não foi isso que eu quis
dizer mesmo.
A – Eu parti o coração dela, o
que mais posso querer?
C – A visão.
M – A luz.
C – A dor.
A – A luz.
M – O ganho.
B – A luz.
C – A perda.
B – O círculo é a única forma
geométrica definida pelo seu centro. Nada de galinha e ovo neste caso, o centro
vem primeiro, depois vem a circunferência. A terra, por definição, tem um
centro. E só o idiota que o conhece é que pode ir onde quiser, pois o centro
vai mantê-lo no chão, impedindo-o de sair da órbita. Mas quando muda sua noção
de centro, vem zunindo para a superfície, o equilíbrio já era. O equilíbrio,
meu bem, já era.
C – Quando ela se foi –
B – A espinha dorsal da minha
vida está quebrada.
A – Por que a luz da vida é dada
àquele que vive na miséria
C – Traga ela de volta.
A – E vida aos amargos de alma
B – Se você estivesse aqui –
M – Eu estou aqui.
A – Como uma profunda sombra de
verão.
C – Eu a amo eu sinto falta dela
B – Estou acabado.
M – Vai anda.
C – Por que eu não morri ao
nascer
M – Sair de dentro do útero
B – E com prazo vencido
A – Aproprie-se das sombras, uma
vez que se está na neblina.
M – A dor é uma sombra.
A – A sombra da minha mentira.
C – Pedras vermelhas do passado
B – Você não é má pessoa, você só
pensa demais.
C – Deixe eu me esconder.
M – Você pode
C – Você poderia
B – Você vai
M – Vai anda
A – Eu nunca mais juro por Deus.
B – Se eu perder minha voz estou
liquidado.
M – Ainda estou aqui.
B – Mas eu não vou,
C – Não dessa vez,
B – Não eu.
C – Não ainda.
M – É como esperar seu cabelo
crescer.
B – You are like a Wednesday.
C – Essa sou eu. Vivo na corda
bamba. Nunca parada, nunca uma coisa ou outra, sempre indo de um extremo ao
mais distante ponto do outro extremo.
B – Meiga.
A – Um toque.
B – Meiga de doer.
M – Grava.
C – Onde foi parar minha
personalidade?
A – Estou velho demais pra isso.
M – Não poderia te amar menos.
B – Não poderia te amar mais.
M – Para ser extremamente
honesta,
C – (quando eu sou extremamente
honesta?)
B – Nem aceitar mais.
(tempo)
C – Isso nunca aconteceu.
(silêncio)
A – O que às vezes eu confundo
com ecstasy é a simples ausência de dor.
M – Medo de nada.
B – Tudo ou nada.
C – Nada disso,
B – Tudo isso,
M – Nada.
C – Sou uma plagiadora de
emoções, roubo a dor das pessoas e vou
juntando à minha própria dor até
A – Não consigo lembrar
B – De quem
C – Nunca mais
A – Talvez você esteja certa,
C – Talvez eu seja má,
A – Mas Deus me abençoou com a marca
de Caim.
C – Peso.
B – Não sei.
M – Encontro.
A – Não sei.
B – Destino.
C – Não sei.
A – É um castigo por você estar
sempre em cima do muro.
M – Continue voltando.
B – De novo.
A – O eterno retorno.
B – Se eu perder minha voz estou
fodido.
C – Merda no prato. Mostre
entusiasmo ou sua própria mãe quebra você em pedaços.
M – Deixe os Homens da Noite
entrar.
A – Minha vida não tem nada de
especial,
C – Uma corrente de
acontecimentos perigosos como outra qualquer,
A – Uma corrente em direção
a um oceano salgado, que machuca,
machuca, mas não mata.
M – Você morreu pra mim.
B – Um ato de amor.
C – Você não é minha mãe.
A – Nós fomos muitas coisas.
B – Algo deu um estalo.
M – Mas eu nunca diria que nós já
estivemos apaixonados.
B – A encontrei
A – A amei
C – A perdi
M – Fim.
(silêncio)
C – Alguma coisa foi içada,
A – Pra fora da cidade,
B – Antes da merda começar,
A – Sobre a cidade,
C – Outro sonho,
M – Eu atravessei um rio que
corre na sombra,
B – In den Bergen, da fühlst du dich frei,
M – Um desejo,
C – Um verão fresco e um inverno
brando,
B – Sem brigas, sem enchentes,
C – A escuridão ronda uma estrela
caindo,
A – Um profundo e longo sono com
você nos meus braços,
B – Ninguém nada porra nenhuma,
C – Assimilado mas não destruído,
A – Paz,
M – Um clarão doentio sem origem
única,
A – Um mar de um dourado pálido
sob um céu rosa pálido,
M – Uma badalada distante cruza o
mar vazio,
B – As nuvens convergem da mesma
forma que eu me vejo em um globo,
C – As ondas soluçam como uma
pulsação.
(tempo)
B – Aqui estou eu, mais uma vez,
aqui estou eu, aqui estou eu, na escuridão, mais uma vez,
A – À beira do nada,
B – Aqui estou eu,
C – Segure minha mão,
A – Glória ao Pai,
M – A verdade está por trás de
você,
B – Eu largaria tudo por você,
C – Em direção à luz,
A – Como era no começo,
C – Além da escuridão,
M – E sempre deverá estar,
B – Em direção à luz,
A – No fim do dia voltamos a
isso,
B – Ganhando tempo,
A – Isso volta pra mim,
M – Mas perdendo luz,
A – Volta pra isso,
C – Gordo e brilhante e
completamente completamente completamente sereno,
M – Não posso te salvar,
A – E limpo.
C – Outras vidas
B – Nenhum cretino consegue.
M – Enrolado dentro de uma bola.
A – Salve a minha alma da espada.
B – Eu acordo assim que sonho,
M – Sozinho.
A – Que está acima de toda a
compreensão.
C – Eu não sonho mais,
A – Eu não tenho sonhos.
B – Ganhando luz,
C – Eu cruzei um rio,
M – Mas perdendo tempo.
B – Não consigo dizer não pra
você.
C – Ficar livre de memória,
M – Livre de desejo,
C – Esconda-se, não provoque
nada,
B – Não diga nada.
A – Invisível.
C – Quando nem os sonhos são
particulares
B – Melhor esquecer.
A – Atos impensados de prazer sem
sentido.
M – Você fez amor à beira do rio.
Todos – Esquece.
(tempo)
B – Me estupre.
(pausa)
M – É possível?
C – Curou meu corpo não pode curar minha alma
A – Estou tão cansado.
B – Continuo voltando.
M – Seja quem eu sempre sonhei.
C – Remende e pinte e cole um
olhar no meu rosto.
B – Minha vida em preto e branco
de trás pra frente.
M – Completa.
A – Faça o que quiseres pois é
tudo da lei.
M – Agora.
A – O amor é a lei, o amor sob a
vontade.
C – Não sinto nada, nada.
Não sinto nada.
A – Satã, meu senhor, eu sou seu.
B – (Sussurra, continuamente, até
o fim da fala de A)
não não não não não não não não não não
não não não não não não não não não não não não não não
A – E não esqueça que poesia para o próprio bem dela é linguagem .
Não esqueça que quando palavras diferentes são
aprovadas, outras atitudes são exigidas.
Não
esqueça o decoro.
Não
esqueça o decoro.
(tempo)
B – Mate-me.
(tempo)
A – Queda-livre
B – Para dentro da luz
C – Clara luz branca
A – O mundo sem fim
C – Você morreu pra mim
M – Glorioso. Glorioso.
B – E assim pra
sempre será
A - Feliz
B – Muito feliz
C – Feliz e livre.
Meni ni iz d¨zepa, ni u d¨zep. (Servo-croata)
Não está no meu bolso, nem fora
dele.
Du bist die Liebe meines Lebens.
(Alemão)
Você é o amor da minha vida.
Jebem radoznale. (Servo-croata)
Sou um porra de um curioso.
In den Bergen, da fühlst du dich frei. (Alemão)
Nas montanhas, lá você se sente
livre.
Witches kisses that kill me. (Inglês)
Beijos bruxos que me matam.
Money comes alone. (Inglês)
O dinheiro vem sozinho.
You are like a Wednesday. (Inglês)
Você é como uma quarta-feira.
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