quarta-feira, 31 de maio de 2017

Sobre o conceito de Estranhamento

Foi desenvolvido pelos formalistas russos, grupo de pesquisadores da literatura no início do século XX. Entre eles, Victor Chloviski escreveu o texto " A arte como procedimentos" .
Link: http://www.eduardoguerreirolosso.com/A-Arte-Como-Procedimento-Chklovski.pdf

Musical Salomônicas


https://www.youtube.com/watch?v=-mXIGHjeQno

domingo, 28 de maio de 2017

Acervos Digitais



Para os interessados, temos os seguintes acervos:


Brasil Memória das Artes
http://www.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/

Desde o início dos anos 2000, a Funarte (Fundação Nacional de Artes) vem adaptando seu acervo para se tornar acessível a um número cada vez maior de brasileiros. Desta forma, a instituição tem organizado itens variados que compõem sua vasta coleção - fotos, arquivos sonoros, textos, documentos - para serem digitalizados ao público, na internet. Constituem esses acervos uma parte considerável da memória das artes cênicas, da música e das plásticas do Brasil.


Arquivo Nacional: no endereço http://zappiens.br/portal/home.jsp, estão documentos da Agência Nacional na íntegra, além de outros acervos menores. Também é possível consultar os arquivos como os do ex-presidente da República João Goulart e do artista Mário Lago, entre outros, na URL http://www.an.gov.br/sian/inicial.asp.


Banco de Conteúdos Culturais (http://bcc.gov.br): além de assistir à íntegra de filmes das produtoras Atlântida e Vera Cruz, o internauta tem acesso a cartazes e fotos do cinema nacional e ao acervo da TV Tupi, com vídeos e roteiros da antiga emissora.


Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (http://www.brasiliana.usp.br): também no âmbito da USP, essa biblioteca abriga e integra a brasiliana reunida ao longo de mais de oitenta anos pelo bibliófilo José Mindlin e sua esposa, Guita.


Biblioteca Nacional Digital (http://bndigital.bn.br): a Hemeroteca Digital Brasileira, a Rede da Memória Virtual Brasileira e a coleção fotográfica D. Thereza Christina Maria são alguns dos acervos disponibilizados na internet pela BN.


Casa Fernando Pessoa (http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/bdigital/index/index.htm): toda a biblioteca do poeta português está disponível, na íntegra.


Centro de Documentação e Informação da Funarte
http://cedoc.funarte.gov.br/sophia_web/


Centro Cultural São Paulo – Biblioteca Sérgio Milliet 
(http://www.centrocultural.sp.gov.br/Biblioteca_Sergio_Milliet.html): integram seu acervo coleções como a Coleção de Arte da Cidade, a Discoteca Oneyda Alvarenga e Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade.


Domínio Público (www.dominiopublico.gov.br): biblioteca digital desenvolvida pelo Ministério da Educação, contém arquivos sonoros, imagens, textos e vídeos. Entre os destaques estão obras de Machado de Assis, Joaquim Nabuco e Leonardo Da Vinci.



Grande Othelo (http://www.ctac.gov.br/otelo/index.asp): mais de seis mil itens catalogados, organizados em séries documentais e inseridos em um banco de dados, com informações textuais e imagens.

Instituto Antônio Carlos Jobim (http://portal.jobim.org): além do acervo de Tom Jobim, reúne vasto material dos acervos de Chico Buarque, Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Lúcio Costa e Milton Nascimento.

Instituto Memória Musical Brasileira (http://www.memoriamusical.com.br): catálogo virtual com a discografia da música brasileira contando com mais de 80 mil discos cadastrados, sendo cerca de 577 mil fonogramas​, 91 mil artistas. É possível ouvir cerca 110 mil músicas e baixar 25 mil partituras da Banda do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro com arranjos completos para bandas e orquestras de sopro.

Instituto Moreira Salles (www.ims.com.br): acervos sobre fotografia, música, literatura e artes visuais.

Museu de Arte Contemporânea da USP (http://www.macvirtual.usp.br): cerca de oito mil obras, entre óleos, desenhos, gravuras, esculturas, objetos e trabalhos conceituais. São obras de artistas como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Brecheret, Tarsila, Rego Monteiro, Portinari, Oiticica, De Chirico, Modigliani, Boccioni, Picasso e Chagall, entre outros.

Museu Nacional (http://www.museunacional.ufrj.br/obrasraras): disponibiliza o acervo digital de obras raras de sua biblioteca.

Projeto Gutenberg: (www.gutenberg.org): pioneiro de livros online em domínio público, conta com uma versão em português aqui neste link.

Rare Book Room (www.rarebookroom.org): banco de dados em inglês, disponibiliza obras raras, como a Bíblia de Gutenberg.

Universidade de São Paulo (USP): além do banco de dados oficial de teses e dissertações (www.teses.usp.br), há obras raras no endereço www.obrasraras.usp.br.

Fonte:
http://www.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/o-projeto/veja-outros-acervos-disponiveis-gratuitamente-para-consulta-digital/

domingo, 21 de maio de 2017

Texto de entrevistas

Dúvidas sobre as entrevistas
1- como o foco aqui é o texto, ou seja, a transcrição e sua legibilidade, não há preocupação com detalhes, como marcar silêncios, pausas, tiques da fala:  (...),  é.... A ênfase é no conteúdo da informação.
2- A forma dessa transcrição de uma fala oral em texto é um texto editado, que se aproxima de uma peça de teatro, marcando que fala e quem responde:


ENTREVISTADOR
Bem, estamos fazendo um trabalho de pesquisa sobre comicidade e gostaríamos de saber como o seu processo criativo se efetiva. Você parte de uma obra, de um autor? Qual é seu ponto de partida?
JOÃO DE MARIA
Olha, eu não posso dizer que tenha um ponto de partida apenas. Depende do espetáculo. Eu já fiquei com uma canção na cabeça por anos, anos. Então resolvi


E assim vai.


PURIFICADO CLEANSED, de Sarah Kane

PURIFICADO
CLEANSED
De SARAH KANE


Tradução de Felipe Vidal -1ª Versão-


Nota da Autora

Uma barra ( / ) indica o ponto de interrupção em diálogos sobrepostos

Rubricas entre parênteses funcionam como falas.

Quando não houver pontuação é para indicar entrega/liberdade (delivery).
CENA 1
Logo do lado de dentro da cerca de uma universidade está nevando.
TINKER está esquentando heroína numa colher de prata.
Entra GRAHAM.
GH – Tinker.
T – Tô cozinhando.
GH – Eu quero ir embora.
T – (Levanta o olhar.)
       (Silêncio)
       Não.
GH – Isso é pra mim?
T – Eu não uso.
GH – Põe mais.
T – Não.
GH – Isso não é o suficiente.
T – Eu sou um negociante, não um médico.
GH – Você é meu amigo?
T – Acho que não.
GH – Então que diferença vai fazer?
T – Isso não vai terminar aqui.
GH – Minha irmã, ela quer –
T – Não me diz.
GH – Eu sei os meus limites. Por favor.
T – Você sabe o que vai acontecer comigo?
GH – Sei.
T – Isso é só o começo.
GH – Sim.
T – Você vai me deixar fazer isso? *
GH – Nós não somos amigos.
         
          Pausa
T – Não.
GH – Sem lamentações.
T – (Pensa. Então põe outra grande quantidade. Ele adiciona suco de limão e esquenta a heroína. Ele enche a seringa.)
GH – (Procura uma veia com dificuldade.)
T – (Injeta no canto do olho de GRAHAM.)
      Conta até dez de trás pra frente.
GH – Dez, nove, oito
T – Tuas pernas tão pesadas.
GH – Sete, seis, cinco
T – Tua cabeça tá leve.
GH – Quatro. Quatro. Cinco
T – A vida é doce.
GH – É o que tá parecendo.
Eles se olham
GH –  (Sorri.)
T – (Desvia o olhar.)
GH – Obrigado, Doutor.
Ele desmaia.
T – Graham?
Silêncio.
T – Quatro.
       Três.
       Dois.
       Um.
       Zero.



















CENA 2
ROD e CARL estão sentados na grama logo do lado de dentro da cerca da universidade.
Meio do verão – O sol está brilhando.
O som de uma partida de cricket vindo do outro lado da cerca.
CARL tira seu anel.
C – Pode me dar o seu anel?
R – Eu não vou ser o seu marido, Carl.
C – Como é que você sabe?
R – Eu não vou ser marido de ninguém.
C – Eu quero que você fique com o meu anel.
R – Pra quê?
C – Um sinal.
R – De quê?
C – Compromisso.
R – Você me conhece há três meses. Isso é suicídio.
C – Por favor.
R – Você morreria por mim?
C – Sim.
R – (Estende a mão.)
       Não tô gostando nada disso
C – (Fecha os olhos e põe o anel/aliança no dedo de Rod.)
R – Quê que você tá pensando?
C – Que eu sempre vou amar você.
R – (Ri.)
C – Que eu nunca vou te trair.
R – (Ri mais.)
C - Que eu nunca vou mentir pra você.
R – Acabou de mentir.
C – Meu bem
R – Querido Meu amor Meu bem. Você me ama tanto, e não lembra o meu nome?
C – Rod.
R – Rod. Rod.
C – Me dá o seu anel?
R – Não.
C – Por quê não?
R – Eu não morreria por você.
C – Tudo bem.
R – Eu não posso te prometer nada.
C – Eu não me importo.
R – Eu me importo.
C – Por favor.
R – (Tira o anel dele e entrega para CARL.)
C – Você não vai pôr ele no meu dedo?
R – Não.
C – Por favor.
R – Não.
C – Eu não espero nada em troca.
R – Espera sim.
C – Você não precisa dizer nada.
R – Preciso sim.
C – Por favor, Meu bem
R – Caralho –
C – Rod, Rod, por favor, desculpa
R – (Pega o anel da mão de Carl.)
      Escuta. Só vou te dizer isso uma vez.
      (Ele põe o anel no dedo de Carl.)
      Eu te amo agora.
      Tô com você agora.
       Eu vou fazer o meu melhor, minuto a minuto, pra não te trair.
       Agora.
       É isso. Mais nada. Não me faz mentir pra você.
C – Eu não tô mentindo pra você.
R – Cresce.
C – Nunca vou te dar as costas.
R – Qualquer um que você imaginar, alguém em algum lugar, vai tá de saco cheio de trepar sempre com a mesma pessoa.
C – Por quê você é tão cínico?
R – Eu sou velho.
C – Você tem 34.
R – 39. Eu menti.
C – Fica quieto.
R – Não confia em mim.
Pausa
C – Eu confio.
Eles se beijam
TINKER está assistindo
CENA 3
A Sala Branca – a enfermaria da Universidade
GRACE está de pé sozinha esperando
TINKER entra consultando uma lista
T – Ele morreu há seis meses. Nós normalmente não guardamos as roupas tanto tempo.
GR – O quê que acontece com elas?
T – São recicladas. Ou incineradas.
GR – Recicladas?
T – É preferível incinerar, mas-
GR – Vocês dão pra alguém?
T – É.
GR – E isso não é muito anti-higiênico?
T – Ele morreu de overdose.
GR – Então por que queimar o corpo dele?
T – Ele era um viciado.
GR – Vocês acharam que ninguém ia se importar?
T – Eu não tava aqui na hora.
GR – Eu preciso ver as roupas dele.
T – Eu lamento.
GR – Vocês deram as roupas do meu irmão para outra pessoa. Eu não vou sair daqui até ver essas roupas.
T – (Não responde).
GR – O quê isso interessa pra você? Me dá as roupas dele.
T – Eu não tenho permissão de deixar ninguém sair do Campo.
GR – Eu só preciso ver
T – (“considera”. Então vai até a porta e chama.)
       Robin!
Eles esperam. Entra um garoto de 19 anos.
T – Tão aí.
GR – (Para ROBIN.)
          Tira a roupa.
RB – Senhora?
GR – Grace
T – Tira.
RB – (Tira a roupa e fica de cueca.)
GR – Toda.
RB – (Olha para TINKER)
T – (Considera, então assente)
ROBIN tira a cueca e fica tremendo por dentro com as mãos cobrindo a genitália.
GRACE se despe completamente
ROBIN assiste apavorado
TINKER olha pro chão
GRACE veste as roupas de ROBIN/GRAHAM
Quando está completamente vestida, ela fica de pé
Por alguns momentos, paralisada.
Ela começa a tremer
Ela desmorona e começa a gemer se lamentando, descontrolada
Ela “colapsa”
TINKER a carrega até uma cama
Ela é amarrada. Ele algema ambos os braços na cabeceira da cama.
Ele injeta nela. Ela relaxa.
TINKER acaricia seus cabelos.
GR – Eu não vou sair daqui.
T – Vai. Você não vai encontrar ele aqui.
GR – Eu quero ficar.
T – Não é certo.
GR – Mas eu já tô ficando.
T – Você vai ser removida.
GR – Eu pareço com ele. Diz que você pensou que eu fosse um homem.
T – Eu não posso te proteger.
GR – Eu não quero que você proteja.
T – Você não devia estar aqui. Você não tá bem.
GR – Me trata como um paciente.
T – (“Considera” em silêncio. Então pega um frasco de pílulas do seu bolso.)
       Mostra a língua.
GR – (Põe a língua pra fora).
T – (Põe uma pílula na língua dela.)
       Engole.
GR – (Engole.)
T – Eu não sou responsável, Grace.
Ele sai.
GRACE e ROBIN se encaram, ROBIN ainda está nu, com as mãos cobrindo a genitália.
GR – Se veste.
RB – (Procura as roupas de GRACE no chão e se veste.)
GR – Escreve pra mim.
RB – (Pisca)
GR – Eu preciso de você pra avisar meu pai que eu tô ficando aqui.
Pausa
RB – Tô indo embora daqui a pouco. Pra casa da minha mãe.
GR – (Encara)
RB - Se eu não me embaralhar de novo.
         Vô pra minha mãe, eu tomei jeito então eu -
         Tomei jeito.
GR – (Encara)
RB – Quê que tu tá fazendo aqui, não tem mulé aqui.
Me encarando.

GR – Escreve pra mim. (ela balança as algemas)

R – A voz disse preu me matar.

GR – (Encara)
R – Tô seguro agora. Ninguém se mata aqui.

GR – (Encara)
R – Ninguém qué morre.

GR – (Encara)
R - Eu não quero morrê,  tu qué morre?

GR – (Encara)

R – Pode sê logo logo, to indo embora.
       Pode sê daqui há trinta, o Tinker disse.
       Pode sê –

GR – Você não sabe escrever, né?

R – (Abre a boca para responder mas não consegue pensar em nada pra dizer.)

GR – Não é o fim do mundo.

R – (Tenta falar. Nada.)



CENA 4
A Sala Vermelha – O ginásio da Universidade.
CARL está sendo fortemente espancado por um grupo de homens invisíveis.
Nós escutamos os sons das pancadas e o corpo de CARL reage como se recebesse a pancada.
TINKER levanta o braço as pancadas param
Ele abaixa o braço. As pancadas voltam.
C – Por favor, Doutor. Por favor.
TINKER levanta o braço. As pancadas param.
T – Sim?
C – Eu não posso-
      Não posso mais-
 TINKER abaixa o braço.
A pancadaria continua metodicamente até CARL ficar inconsciente
 TINKER levanta o braço.
T – Não mata ele não.
       Poupa ele.
Ele beija gentilmente o rosto de CARL.
C – (Abre os olhos.)

T - Tem uma passagem vertical através do seu corpo, uma linha reta, através dela um objeto pode passar sem te matar imediatamente. Começa aqui.

Ele toca o ânus de CARL.


C - (enrijece de medo.)

T - Pode se pegar uma vara, empurrar por aqui, evitando os órgãos importantes, até ela chegar aqui.
    (toca o ombro direito de CARL)
    É claro que eventualmente se morre. De inanição se nada te levar primeiro.

As calças de CARL são arriadas e um bastão empurrado ânus adentro.

C - Cristo. Não.

T – Qual é o nome do seu namorado?


C – Jesus.

T – Você pode descrever a genitália dele?

C – Não.

T – Quando foi a última vez que você chupou o pau dele?

C – Eu

T – Você botou ele no rabo?

C – Por favor.

T – Não quer entregar, tô vendo.

C – Não.

T – Fecha os olhos e imagina que é ele.

C – Por favor Deus eu não.

T – Rodney Rodney me rasga no meio.

C – Por favor Deus não me mata porra.

T – Eu te amo Rod eu morreria por você.

C – Eu não. Por favor eu não não me mata o Rod não eu
      Não me mata o Rod eu não o Rod eu não.

A vara é removida
ROD cai de uma grande altura perto de CARL
Silêncio.

T – Eu não vou matar nenhum dos dois

C – Eu não pude evitar, Rod, saiu da minha boca antes que eu-

T – Shh shh shh
       Sem lamentações

      (Ele acaricia o cabelo de CARL)

       Mostra a língua.

CARL põe a língua pra fora

TINKER saca uma grande tesoura e corta a língua de CARL fora.
CARL balança os braços, com a boca aberta cheia de sangue, nenhum som sai.
TINKER tira o anel do dedo de ROD e põe na boca de CARL.

T – Engole.
C – (Engole o anel.)







































 

 

CENA 5



A Sala Branca

GRACE está deitada na cama.
Ela acorda e fita o teto.
Ela tira as mãos de baixo dos lençóis e olha pra elas-
Elas estão livres.
Ela esfrega os pulsos.
Ela senta.
GRAHAM está sentado no fim da cama.
Ele sorri pra ela.

GH – Oi, Luz do sol.

Silêncio

GRACE encara-o
Ela o beija no rosto o mais forte que ela pode,
depois o abraça o mais forte possível.
Ela segura o rosto dele e olha fixamente pra ele.

GR – Você tá limpo.

GH – (Sorri)

GR – Não me deixa nunca mais.

GH – Não.

GR – Jura.

GH – Pela minha vida.

Pausa. Eles se olham em silêncio.

GH – Cê tá mais parecida comigo do que eu jamais fui.

GR – Me ensina.

GRAHAM dança – Uma dança de amor para GRACE
GRACE dança em frente a ele copiando os movimentos dele
Gradualmente, ela toma a masculinidade de seus movimentos, suas expressões faciais. Finalmente, ela não o assiste mais.
Ela o espelha perfeitamente enquanto eles dançam exatamente ao mesmo tempo.
Quando ela fala, a voz dela fica mais parecida com a dele.

GH – Você é boa nisso.

GR – Boa nisso.

GH – Muito boa.

GR – Muito boa.

GH – Muito Muito boa

GR – Muito Muito boa.

GH – (Pára e a observa)
          Eu nunca me conheci, Grace –

Gr – (Pára de espelhá-lo, confusa.)
        Você sempre foi um anjo.

GH – Não eu só parecia bom.

         (Ele sorri da confusão dela e a toma nos braços)

         Não é tão sério assim. Você fica linda quando sorri.

Eles começam a dançar lentamente, bem juntos
Eles cantam o primeiro verso de “You Are My Sunshine” de Jim Davis e Charles Mitchell.
As vozes deles vão baixando e eles se encaram de pé.

Gr – Eles queimaram teu corpo.

GH – Eu tô aqui. Eu fui embora, mas agora eu tô de volta e nada mais importa.

Eles se encaram
Ela toca o rosto dele.

GR – Se eu-

        (Ela toca os lábios dele.)
         Puser meu-
         (Ela põe o dedo dela na boca dele
         Eles se encaram, assustados.
         Ela o beija muito levemente nos lábios.)

GR – Me ama ou me mata, Graham.

Ele hesita.
Então a beija suave e gentilmente a princípio, depois mais forte e profundamente.

GH – Eu costumava...pensar em você e ...
          Eu costumava...queria que fosse você quando eu...
          Costumava...

GR – Não importa. Você foi embora, mas agora você tá de volta e nada mais importa.

GRAHAM tira a blusa dela e olha para seus seios.

GH – Agora não faz diferença.


Eles tiram o resto das roupas, um assistindo ao outro.
Eles ficam de pé nus e olham para o corpo um do outro
Eles lentamente se abraçam.
Eles começam a fazer amor, bem de vagar a princípio,
Depois mais forte, rápido, urgente, fazendo o ritmo do outro se tornar o seu.
Eles gozam juntos
Eles se abraçam,
Um girassol nasce do chão e cresce sobre as cabeças deles.
Quando ele está completamente crescido, GRAHAM puxa-o até ele e o cheira.
Ele sorri.

GH –Lindo.






















CENA 6

A Sala Negra – Os chuveiros do ginásio da Universidade convertido em cabines de Peep Show.
Entra TINKER
Ele senta numa cabine.
Ele tira sua jaqueta e põe no colo.
Ele abre as calças e põe a mão dentro.
Com a outra mão põe uma ficha no buraco.
A janela se abre e ele olha pra dentro.
Uma MULHER está dançando.
TINKER assiste durante um tempo se masturbando.
Ele pára e olha para o chão.

T – Não dança, eu-
Posso ver o seu rosto.

A MULHER pára de dançar e considera.
Depois de um momento ela senta.
T – (Não olha pra ela.)
M – (Espera.)
T – Quê que cê tá fazendo aqui.
M – Eu gosto.
T – Isso não é certo.
M – Eu sei.
T – Podemos ser amigos?
A janela fecha.
TINKER põe mais duas fichas.
A janela abre.
A MULHER está dançando.
T – Não, eu-
       Seu rosto.
M – (Senta.)
T – (Não olha pra ela.)
       Quê que cê tá fazendo aqui?

M – Não sei.

T – Você não devia tá aqui. Não é certo.

M – Eu sei.

T – Eu posso te ajudar.

M – Como?

T – Eu sou médico.

M – (Não responde)

T – Você sabe o que isso quer dizer?

M – Sei.

T – Podemos ser amigos?

M – Eu acho que não.

T – Não, mas – 

M – Não.

T – Eu vou ser qualquer coisa que você precise.

M – Você não pode.

T – Posso sim.

M – Tarde demais.

T – Deixa eu tentar.

M – Não.

T – Por favor. Eu não vou te decepcionar.

M – (Ri.)

T – Confia em mim.

M – Por quê?

T – Eu não vou te dar as costas.

M – Nem vai me encarar, também

T – Eu vou te dar o que você quiser, Grace.

M – (Não responde.)

T – Olha no rosto dela pela primeira vez

      Eu prometo

      A janela fecha
      TINKER não tem mais fichas.




CENA 7



A Sala Redonda – A biblioteca da Universidade.


GRACE e ROBIN sentam juntos olhando para um pedaço de papel.
Ambos usam a roupa do outro.
ROBIN segura um lápis.
GRAHAM assiste.

GR – É como falar sem usar a sua voz. Algumas palavras que você usa o tempo todo. Cada letra corresponde a um som. Se você lembrar que som corresponde a que letra você pode começar a construir palavras.

RB – Essa letra num parece com o som dela.

GR – R

RB – Essa aqui parece/ mas essa aqui não.

GR – O. Você sabe o que palavra é essa quer/ diz?

RB – Robin, eu sei que é o meu nome porque tu me disse.

GR – Tudo bem, eu quero que você escreva uma palavra-

RB – Grace.

GR – Meu nome, então pensa que parece com o som dele.

RB – (Olha pra ela e pensa. Ele sorri e começa a escrever, segurando “desajeitadamente” o lápis, botando a língua pra fora como se estivesse muito concentrado.)

GH – Meninos.

GR – (Sorri pra GRAHAM)

RB – Senhora?

GR – Eu tenho nome.

RB – Grace, tu já teve um namorado?

GR – Já.

RB – Como é que ele era?

GR – Ele me comprou uma caixa de bombons depois tentou me estrangular.

RB – Bombom?

GH – Aquele menino negro?

RB – Tinha um rosa?

GR – Não é sobre cor, não passa por aí.

RB – Qual era o nome dele?

GR – Graham.

RB_  Seu namorado.
GH

GR – Paul.
          Se concentra.

RB_ Você ainda ama ele?
GH

GR – Por favor.

RB – Não, mas você?

GR – Eu-
         Não.
         Nunca.

RB – Você-

GH – Fudeu com ele.

GR – Sim
         Eu fiz isso
         Eu fiz isso.

RB – Ah

Silêncio

Robin escreve


RB_ Gracie
GH

GR – O quê?

RB – Se tu pudesse trocá uma coisa na sua vida o que tu trocava?

GR – Minha vida.

RB – Não uma coisa na sua vida.

GR – Não sei.

RB – Não, mas diz uma coisa.

GR – Muita coisa pra escolher.

RB _ Mas escolhe.
GH

GR – Isso é loucura.

RB – Tu não ia gostar que o teu irmão voltava?

GR – O quê?

RB – Não ia gostar que o Graham tivesse vivo?

GRAHAM e GRACE riem


GR – Não. Não.
         Eu não penso no Graham como morto.
         Não é assim que eu penso nele.

RB – Cê acredita em céu, paraíso?

GR – Não.

RB – Não acredita em paraíso não acredita em inferno.

GR – O paraíso eu não posso ver.

RB – Se eu tivesse um pedido eu ia gostar que o Graham vivia de novo.

GR – Você disse trocar uma coisa na sua vida não ter um pedido.

RB – Então ia trocá o Graham morto pelo Graham vivo.

GR – Graham não é uma coisa pra se trocar. E ele não é da sua vida.

RB – É sim.

GR – Como?

RB – Me dero as roupa dele.

TINKER está assistindo.

GR – Não precisa, Robin.

          Não parece que ele tá morto.

GH _ O que você ia trocar?
RB

GR – Meu corpo. Então ele ia ficar mais parecido com como ele se sente.
          Graham por fora que nem Graham por dentro.

RB  _ Eu acho que você tem um corpo ótimo.
GH

GR – Valeu. Eu acho é que você deve escrever essa palavra agora.

RB – Minha mãe não seria minha mãe se eu tivesse que escolher outra, eu escolheria você.

GR – Fofo.

RB – Se eu-
         Se eu fosse casá eu ia  casá com você.

GR – Ninguém casaria comigo.

RB _ Eu casaria.
GH

GR – Não é possível

RB – Nunca beijei uma garota antes.


GR – Você vai.

RB – Não aqui eu não vou. Só se for tu.

GR – Eu não sou assim, uma garota, não.

RB – Num ligo.

GR_  Eu ligo.
GH

RB – Eu não


GR – Escuta. Se eu fosso beijar alguém aqui, eu não vou, mas se fosse ia ser você.

RB_  É?

GH

GR – Com certeza
         Se.
         Mas.

RB – (Comemora e volta para sua escrita)

Pausa longa.

RB – Grace

GR – Humm

RB_  Eu amo você.
GH

GR – Eu-
         Eu amo você também. Mas de uma maneira muito especial.

RB – É?

GR – Robin, eu-

RB – Tu vai?

GR _ Não.
GH

RB – Sê minha namorada?

GR – Você é um garoto muito bonzinho-


RB – Eu não vô te estrangulá


GR – Um bom amigo mas-

RB – Tô apaixonado por você

GR – Como você pode?

RB – Eu só tô-
         Eu conheço você-
 
GR – O Tinker me conhece-

RB – E eu amo você.

GR – Muitas pessoas me conhecem, e elas não tão apaixonadas por mim.

RB _ Eu tô.
GH

GR – Tô ficando confusa.

RB – Só quero te beijá, não vou te machucá, eu juro

GR – Quando você for embora-

RB _ Nunca.
GH

GR – Quê?

RB – Num quero saí.

GR – Isso é-

RB – Quero ficá com você.

GR – Quê que você tá dizendo?

RB – Eu tô gostando daqui.

TINKER entra pega a folha de papel de ROBIN e olha.

T – Que porra é essa?

RB – Flor.

TINKER acende um isqueiro e queima a folha inteira.

RB – Ela tem cheiro de flor.

CENA 8


Uma poça de lama perto do lado direito da cerca da Universidade.

Está chovendo.
O som de uma partida de futebol do outro lado da cerca.
Um único rato corre entre ROD e CARL.

R – Meu bem

C – (Olha para ROD. Ele abre a boca. Não sai nenhum som.)

R – Você devia ter visto eles me crucificando.

C – (Tenta falar. Nada. Ele bate no chão frustrado.)

CARL apalpa na lama e começa a escrever enquanto ROD fala.

R – E os ratos comeram o meu rosto. E daí? Eu teria feito o mesmo só que eu nunca disse que eu não faria. Você é jovem. Eu não te culpo. Não se culpe. Não é culpa de ninguém.

TINKER está assistindo.
Ele deixa CARL terminar o que está escrevendo então vai até ele e lê.
Ele pega CARL pelos braços e corta suas mãos.
TINKER sai.
CARL tente pegar as mãos dele- ele não consegue, ele não tem mãos.
ROD vai até CARL. Ele cata a mão esquerda decepada e tira o anel que ele havia posto lá.
Ele lê a mensagem escrita na lama.

R – “Diz que você me perdoa” (Ele põe o anel.)
       Eu não vou mentir pra você Carl.

O rato começa a comer a mão direita de CARL.












CENA 9


A Sala negra

TINKER entra na sua cabine
Ele senta
Ele põe uma ficha
A janela abre
A MULHER está dançando.
TINKER assiste por um momento

M – Oi, Doutor.

T – Grace, eu – 
      Seu rosto.

A MULHER senta eles se olham.

T – Somos amigos?

M – Você vai me ajudar?

T – Eu te disse.

M – Sim.

T – O que eu devo fazer?

M – Me salva.

A janela fecha
Ele não tem mais fichas.















CENA 10


A Sala Vermelha.
GRACE está sendo espancada por um grupo de homens invisíveis cujas vozes ouvimos.
Nós ouvimos o som de tacos de baseball espancando GRACE e ela reage como se tivesse recebido a pancada.
GRAHAM está assistindo aflito.
GRACE apanha.

GR – Graham.

VOZES – Tá morto, vagabunda.
                 Ela transava com o irmão.
                 Ele não era bicha?

                 Usuário de merda

                 Todo seqüelado
                 Não porra
                 Sim porra
                 Seqüela Seqüela Seqüela

GRACE leva uma pancada em cada seqüela.

GR – Graham meu Deus me salva.

VOZES – Ele nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/ Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) vai poder salvar você (Seqüela/Chicotada).

GH – Grace.

VOZES – Nunca (S/C –|som de chicotada|)

Paralisação // Pausa
GRACE fica deitada imóvel com pavor de virem mais pancadas.

GH – Fala comigo.

GR – (Não se move nem faz nenhum som)

GH – Não vai te machucar, Grace. Não pode te tocar.*

GR – (Não se move nem faz nenhum som)

GH – Nunca.

Vem uma S/C do nada fazendo GRACE berrar.

VOZES – A baranga ainda tá viva.

GH – Desliga a sua cabeça. Era o que eu fazia. Levantada a bola e desligava antes que a dor chegasse. Eu pensava em você.

Há uma enxurrada de pancadas que o corpo de GRACE reage, mas ela não faz nenhum som.

GH – Eu costumava pôr minha colher no meu chá e esquentar. Quando você não tava olhando eu encostava a colher no seu braço e você (S/C) gritava e eu ria. Faz comigo.

GR – Faz comigo.

GH – Você encostou uma colher quente em mim e eu não senti nada.
          Eu sabia que ela tava vindo.
          Se você sabe que tá vindo você tá preparada.
          Se você sabe que tá vindo-

GR – Tá vindo.

A pancada vem. O corpo de GRACE se move- não com dor, simplesmente com a força da pancada.

GH – Você pode embarcar nisso.

VOZES – Faz comigo
                Fode a vagabunda (“Shag the slag”)*

GRACE é estuprada por uma das vozes.
Ela olha dentro dos olhos de GRAHAM durante todo o tempo.
GRAHAM segura a cabeça dela nas mãos.

VOZES – Amordaçando por isso
                 Implorando por isso

                 Arquejando por isso

                 Ansiando isso
                 Ela se foi?
                 Nem um pio

GRAHAM pressiona a sua mão em cima de GRACE e as roupas dela se tornam vermelhas onde ele toca, sangue traspassando.
Simultaneamente seu próprio corpo começa a sangrar nos mesmos lugares.

GH – Meu bem, meu bem, meu bem.

VOZES – Mata todo mundo.

Uma pausa.
Então uma longa rajada de metralhadora//pistola automática.
GRAHAM protege o corpo de GRACE com o seu próprio e segura a cabeça dela entre as mãos.
Os tiros vêm e vão.
As paredes são esburacadas por marcas de balas e o tiroteio continua, grandes pedaços de reboco e tijolo despencam da parede.
A parede é despedaçada e banhada de sangue.
Depois de alguns minutos, o tiroteio cessa.
GRAHAM descobre o rosto de GRACE e olha para ela.
Ela abre os olhos e olha para ele.

GH – Ninguém. Nada. Nunca.

Nascem do chão narcisos.
Eles explodem, e o seu amarelo cobre todo o palco.
Entra TINKER. Ele vê GRACE.

VOZES – Todo mundo morto?


T – Ela não.

Ele vai até GRACE e ajoelha a o lado dela.
Ele pega a mão dela.

T – Eu tô aqui pra te salvar.*

GRAHAM colhe uma flor e cheira.
Ele sorri.

GH – Lindo. (“Lovely”)










CENA 11


A Sala Negra.
ROBIN entra na cabine que TINKER visita.
Ele senta.
Ele põe a única ficha que tem.
A janela abre.
A mulher está dançando
ROBIN assiste-no início inocentemente ávido, depois confuso, depois aflito.
Ela dança por sessenta segundo.
A janela fecha.
ROBIN senta e chora muito.

































CENA 12


A Sala Branca.
GRACE está deitada tomando banho de sol de uma pequena rachadura do teto.
GRAHAM está de um lado dela, TINKER do outro.

T – Quê que cê tá querendo?

GR – Sol.

GH – Não vai dar pra pegar um bronze.

T – Você pode ter lá fora.

GR – Eu sei.

VOZES – Queima “careta” *

GR – Segura a minha mão.

GH – Luz do sol.

GRAHAM pega uma mão TINKER a outra.

GR – Tô com dor no saco.

T – Você é mulher.

VOZES – Grace maluca.

GR – Gosto de sentir você aqui.

GH – Sempre vou tá aqui.
         E aqui.
         E aqui.

GR – (Ri. Depois séria de repente) Eles continuam gritando para mim.

T – É o que eu te digo.

GH – Me ama ou me mata.

T – Posso fazer você melhorar.

GR – Amo você.

GH – Jura.

T – É.

GR – Pela a minha vida.

GH – Não me deixa ir embora

GR – Graham-

VOZES – TORRA

T – É Tinker.

VOZES – QUEIMA

GR – Querido.

VOZES – TOR-

T – Confia em mim.

VOZES – Hora de ir.

TINKER solta a mão de GRACE.
É ligada uma corrente elétrica
O corpo de GRACE é tomado por um grande choque como se pedaços de seu cérebro estivessem sendo queimados.
O feixe de luz cresce até engolfar eles todos
Isso se torna cegante.
















CENA 13


A poça de lama perto da cerca.
Está chovendo
Uma dúzia de ratos dividem o espaço com ROD e CARL.

R – Se você tivesse dito “Eu”, me pergunto o que teria acontecido. Se ele tivesse dito “Você ou Rod” e você tivesse dito “Eu”, me pergunto se ele teria te matado. Toda vez que ele me perguntar eu vou dizer “Eu. Faz isso comigo. Não com Carl, não com meu amor, não com meu amigo, faz isso comigo”. Eu queria ir no primeiro barco para fora desse lugar. *
A morte não é a pior coisa que podem fazer com você. O Tinker fez um cara arrancar os “saco” do outro a dentada. Pode se tomar a sua vida sem te dar a morte em troca.

Do outro lado da cerca uma criança canta “Things we say today” de Lennon e McCartney.
CARL e ROD escutam de repente
A criança para de cantar
Depois começa de novo
CARL fica de pé, se balançando.
Ele começa a dançar- uma dança de amor para ROD
A dança se torna, delirante, frenética e CARL faz uns grunhido que se fundem com o canto da criança
A dança perde o ritmo- CARL dança espasmodicamente fora do ritmo
Os pés arrastando na lama, uma dança espasmódica de desesperado arrependimento.
TINKER está assistindo.
Ele derruba CARL no chão e corta seus pés.
Ele se vai.
ROD ri.
Os ratos levam embora os pés de CARL.
A criança canta.












CENA 14

A Sala Negra.
TINKER vai para a sua cabine
E abre o fecho-eclair das calças e senta escarranchado no encosto da cadeira
Ele põe algumas fichas no compartimento.
A janela se abre, a mulher está dançando.
TINKER se masturba furiosamente até ela falar.

MULHER – Doutor.

T – Não gasta a porra do meu tempo. Senta.

M – (Senta em frente a TINKER)

T – Abre as pernas.

M – Tô confusa.

T – ABRE A PORRA DAS PERNAS.

M – (Abre.)

T – Olha.

M – (Olha.)

T – Se toca.

M – (Soluça.)

T – TOCA PORRA TOCA.

M – Eu não faço isso.

T – VOCÊ NÃO QUER QUE EU TE AJUDE.

M – Quero.

T – ENTÃO TOCA.

M – Eu não quero que seja assim.

T – Você é uma mulher, Grace.

M – Eu quero-

T – Não diz.

M – Você disse-

T – Eu menti. Você é o que você é. Sem lamentações.

M – O que eu quisesse.

T – Eu não sou responsável.

M – Eu confiei em você.

T – É.

M – Amigos.

T – Acho que não.

M – Eu posso mudar.

T – Você é uma mulher.

M – Você é um médico. Me ajuda.

T – Não.

M – É por causa de outra pessoa.

T – Não.

M – Eu te amo.

T – Por favor.

M – Eu pensei que você me amasse.

T – Como você é.
M – Então me ama porra, me ama.
T – Grace.
M – Não me dá as costas.
A Janela fecha.
T – Se eu soubesse
      Se eu soubesse
      Eu sempre soube.








































CENA15
A sala redonda.
ROBIN está sonolento, entre uma pilha de livros, papéis e um ábaco de 11 colunas.
Ele ainda tem um lápis na mão
Tem uma caixa de bombons perto de sua cabeça.
TINKER entra e fica de pé olhando para ele
Ele suspende ROBIN pelo cabelo.
ROBIN berra TINKER põe uma faca na garganta dele.
T- Você fudeu com ela?
     Fudeu até o nariz dela sangrar?
     Eu posso ser um escroto mas eu não sou otário.
     (ele vê os bombons.)
     Onde você conseguiu isso?
     Ã?
     Ã?

RB - É pra Grace.

T - Onde você conseguiu isso?

RB - Comprei.

T - Como, dando o cú?

RB - (não responde.)

TINKER solta ROBIN.
Ele abre os Bombons.
Pega um e enfia na cara de ROBIN.

T- Come.

ROBIN come soluçando
TINKER Enfia outro.
Robin Come.
TINKER Enfia outro.
Robin Come.
TINKER Enfia outro.
Robin Come.
TINKER Enfia outro.
Robin Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
Acaba a parte de cima da caixa, TINKER tira o papel vegetal que cobre o outro nível joga fora. Começa a pegar os bombons de baixo.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER joga a caixa vazia nele e percebe que ROBIN se mijou.

T- Seu pervertido imundo, limpa isso.

ROBIN fica de pé na poça, angustiado.
TINKER pega a cabeça de ROBIN e força para baixo, esfregando seu rosto na própria urina.

T- Limpa isso mocinha.

ROBIN olha em volta em pânico.
Ele tenta usar a caixa vazia de Bombons para limpar a urina, mas ela espalha mais.
Ele rasga alguns livros que estão perto e seca o desastre.
Ele olha para os livros atarantado.

RB- A Grace.

T- (enfia na cara de ROBIN uma caixa de fósforos.)

RB- (olha para TINKER.)

T- (olha de volta para ROBIN.)

RB- (empilha os livros e os queima.)

T- Todos.

ROBIN queima quantos livros ele pode e assiste eles indo em chamas.
GRACE entra, com o olhar vago e tranqüilizada, com GRAHAM.
Ela assiste.
ROBIN sorri nervosamente.

RB- Desculpa. Tava frio.

GRAHAM guia GRACE até o fogo.
Ela esquenta as mãos no calor das chamas.

GC- Lindo- (“Lovely”)






















CENA 16

A poça de lama perto da cerca.
Um calor escaldante
Som de fogo
A maioria dos ratos está morta.
Os poucos que restaram correm de um lado para o outro freneticamente.

ROD - Só existe o agora.
        (ele chora)

CARL - (abraça ele.)

R - Tá tudo como deveria estar.

CARL o beija.
Faz amor com ROD.

R - Eu sempre vou amar você.
     Eu nunca vou mentir pra você.
     Eu nunca vou te traia.
     Na minha vida.

Ambos gozam
ROD tira o anel e põe na boca de CARL.
CARL engole. Ele chora.
Eles se abraçam apertado, depois vão se deitar enroscados.
TINKER está assistindo.
Ele puxa ROD de CARL.

T - Você ou ele, Rod, Qual vai ser?

R - Eu. O Carl não. Eu.  

T - (corta a garganta de ROD.)

C - (se debate para chegar até ROD. Ele está Preso.)

R - Não precisava ter sido assim.
     (morre.)

T - Queima ele.




CENA17


A sala redonda

ROBIN, GRACE e GRAHAM estão perto das cinzas do fogo.
GRACE ainda está esfregando as mãos de vagar e as mantém lá como se houvessem brasas.
ROBIN recupera seu ábaco das cinzas
Ele o mostra para GRACE
Ela não responde.

RB- Tava trabalhando com uns número. Achei que tivesse estragado.


GC- (não responde.)


RB- Posso te mostrá?

GC- (não responde.)


RB- Tá eu vou-
       Os dias que faltam. Tentá.
       (ele conta as contas de uma das fileiras.)
       1.2.3.4.5.6.7.
       (ele olha para as sete contas, depois lentamente move uma conta da fileira seguinte.)
       1.
       (ele conta as contas das fileiras três até oito.)
       1.2.3.4.5.6.7.8.9.10.11.12.13.14.15.16.17.18.19.20.21.22.23.24.25.26.27.28.29.30.31.32.
       33.34.35.36.37.38.39.40.41.42.43.44.45.46.47.48.49.50.51.52.
       (ele olha para as contas.)
       52 setes.
       (ele lentamente move uma conta da fileira seguinte.)
       1.
       (ele conta as contas das3 fileiras seguintes.)
       1.2.3.4.5.6.7.8.9.10.11.12.13.14.15.16.17.18.19.20.21.22.23.24.25.26.27.28.29.30.
       Trinta cinqüenta e dois setes.
       Gracie.

GC- (não responde.)
ROBIN tira a meia calça dele (de Grace) e faz uma laçada.
Ele pega uma cadeira e fica de pé nela.
Ele prende a laçada no teto e põe no pescoço.
Ele fica de pé em silêncio por alguns minutos.

RB- Gracie.
       Gracie.
       Gracie.
       Gracie.
       Gracie.
       Gracie.
       Por favor, Moça.

A cadeira é puxada de baixo de ROBIN ele se debate.
TINKER está assistindo.

GH- Ele tá morrendo, Grace.

GRAHAM olha para ROBIN.
 ROBIN olha para GRAHAM- Ele vê ele.
Ainda sufocando, ROBIN estende a mão para GRAHAM.
GRAHAM Pega.
Depois enrosca os braços em volta das pernas de ROBIN e puxa.
ROBIN morre.
GRAHAM senta embaixo das pernas pendentes de ROBIN.
TINKER vai até GRACE e pega a mão dela.

T- Diz boa noite para o pessoal, Gracie.
(ele a leva para fora.)

GRAHAM está sentado imóvel debaixo do corpo pendente de ROBIN.





















CENA 18


A sala branca.
GRACE está deitada inconsciente numa cama.
Ela está nua a não ser uma bandagem enfaixando o seu púbis e o peito, e sangue onde os seios deveriam estar.
CARL está deitado deitada inconsciente numa cama.
Ele está nua a não ser uma  ensangüentada bandagem enfaixando o seu púbis.
TINKER está de pé entre eles.
TINKER tira a bandagem de GRACE e olha para o púbis dela.
GRACE desperta.

GC- D- D-

T- O que você queria, espero que eu-

GC- D- D-

TINKER ajuda GRACE a se levantar e guia ela até o espelho.
GRAHAM entra.
GRACE focaliza o espelho.
Ela abre a boca.

Graham- Acabou.

T- Belo Rapaz.
    Como o seu irmão.
    Eu espero que você-
    O que você queria.

GC- (toca os seus genitais costurados.)
        D- D-

T- Você gostou?

GC- D-

T- Você ---- vai se acostumar com ele
    Não se pode chamar mais você de Grace
    Tem que te chamar de... Graham. Eu vou te chamar de Graham.
     (ele começa a sair.)

Graham - Tinker

T- (se vira e olha para Grace.)

GR_ Doeu.*
GC

T- Desculpe. Eu não sou médico de verdade.
    (ele beija GRACE muito suavemente.)

   T_ Tchau, Grace.
GH

TINKER e GRAHAM se viram
Vão embora.
GRACE se olha no espelho
CARL se senta na cama e abre a boca.
Ele olha para GRACE. Ela olha para ele.
CARL deixa escapar um grito silencioso.
































CENA 19


A sala negra.
TINKER entra e se senta.
Ele alimenta o mecanismo de visão.
A janela abre
A MULHER está dançando
Ela pára e se senta.

Mulher- Oi, Tinker.

Tinker- Oi, meu amor.

M- Como é que cê tá?

T- Ela se foi.

M- Quem?

Longo silêncio


M- Posso te dar um beijo?

T- (sorri.)

A MULHER abre o compartimento e vai até o lado de TINKER.
Ela o beija.
Ele hesita.
Ela o beija de novo.
Ele a beija.
Ele olha para o chão.

T- Tô confuso.

M- Eu sei.

T- Eu acho que eu-
    Mal interpretado.

M- Eu sei. Você é bonito.

T- Grace, ela-

M- Eu sei. Eu te amo.

Eles se olham.
Ela o beija.
Ele corresponde.
Ela tira a parte de cima do biquíni.
Ele olha para os seios dela.

M - Eu pensei em você quando eu...
     Eu queria que tivesse sido você quando eu...

T - (recua e olha para ela.)
     São os peitos mais maravilhosos que eu já encontrei.

M - Faz amor comigo, Tinker.

T - Tem certeza?

M - Faz amor comigo.

Ambos se despem, um assistindo ao outro.
Eles ficam de pé nus olhando um para o corpo do outro
Eles se abraçam lentamente.
Eles começam a fazer amor bem de vagar.

M - Chora.

T - (pára.) Você tá bem? A gente pode-

M - Não, não eu-

T - Tá doendo você quer que eu pare?

Eles começam a fazer amor de novo
Muito gentilmente
TINKER começa a chorar
A mulher lambe as lágrimas dele.

M - Eu adoro seu pau, Tinker
Eu adoro seu pau dentro de mim, Tinker
Me fode, Tinker
Mais forte mais forte mais forte
Goza dentro de mim
Eu te amo, Tinker.

T - (goza.)
     Desculpa.

M  - Não.

T- Eu não pude-

M- Eu sei.

T- Me fode Me fode Me fode Eu te amo Eu te amo Eu te amo Por que você gozou?

M- (ri.)
     Eu sei. A culpa é minha.

T- Não, eu-

M- Tudo bem.
     Eu te amo.
     A maior parte do tempo.

Eles se abraçam, ele dentro dela, se se mover.

M- Você tá aqui?

T- Sim.

M- Agora.

T- Sim.

M- Comigo.

T- Sim.

Pausa


T- Qual o seu nome?

M- Grace.

T- Não eu quero saber o-

M- Eu sei, Grace.

T- (sorri) Eu te amo, Grace.






CENA 20

A poça de lama perto da cerca

Está chovendo
CARL e GRACE estão sentados um perto do outro.
GRACE agora parece e soa exatamente como GRAHAM. Ela está usando as roupas dele.
CARL usa as roupas de ROBIN que eram de GRACE (femininas)
Há dois ratos um fuçando as feridas de GRACE o outro as de CARL.

Grace/Graham- Corpo perfeito
                          Aprisionado nos pensamentos o dia todo.
                          Mas dançou como um sonho desconhecido.
                          Eles já fizeram isso?
                          Morreram.

                          Queimaram.

                          Uma porção de carne carbonizada arrancada das roupas.
                          De volta a vida.

                          Por que você nunca dizia nada?

                          Amou

                          A mim

                          Ouvir uma voz ou pescar um sorriso
                          vindo do espelho seu puto como
                          você ousou me abandonar assim.

                          Sentia isso.
                          Aqui. Dentro. Aqui.

                          E quando eu não sinto, fica sem sentido
                          Pensar em acordar, fica sem sentido
                          Pensar em comer, fica sem sentido
                          Pensar em se vestir, fica sem sentido
                          Pensar em falar, fica sem sentido
                          Pensar em só morrer fica completamente sem porra de sentido
                          Nenhum.

                          Aqui agora
                          Seguro. Do outro lado e aqui.

                          Graham.

                          (Um longo silêncio)

                          Sempre vai estar aqui.
                          Obrigado, Doutor.

GRACE/GRAHAM olha para CARL.
CARL está chorando

GR/GH – Me ajuda.

CARL estende o braço.
GRACE/GRAHAM segura o coto.
Eles olham para o céu, CARL está chorando.
Para de chover
O sol aparece,
GRACE/GRAHAM sorri.
O sol fica cada vez mais brilhante, e o ruído dos ratos cada vez mais alto, até a luz ficar cegante e o ruído ensurdecedor.