PURIFICADO
CLEANSED
De SARAH KANE
Tradução de Felipe Vidal -1ª
Versão-
Nota da Autora
Uma barra ( / ) indica o ponto de interrupção em diálogos
sobrepostos
Rubricas entre parênteses funcionam como falas.
Quando não houver pontuação é para indicar entrega/liberdade
(delivery).
CENA 1
Logo do lado de dentro
da cerca de uma universidade está nevando.
TINKER está esquentando
heroína numa colher de prata.
Entra GRAHAM.
GH – Tinker.
T – Tô cozinhando.
GH – Eu quero ir embora.
T – (Levanta o olhar.)
(Silêncio)
Não.
GH – Isso é pra mim?
T – Eu não uso.
GH – Põe mais.
T – Não.
GH – Isso não é o suficiente.
T – Eu sou um negociante, não um médico.
GH – Você é meu amigo?
T – Acho que não.
GH – Então que diferença vai fazer?
T – Isso não vai terminar aqui.
GH – Minha irmã, ela quer –
T – Não me diz.
GH – Eu sei os meus limites. Por favor.
T – Você sabe o que vai acontecer comigo?
GH – Sei.
T – Isso é só o começo.
GH – Sim.
T – Você vai me deixar fazer isso? *
GH – Nós não somos amigos.
Pausa
T – Não.
GH – Sem lamentações.
T – (Pensa. Então põe outra grande quantidade. Ele
adiciona suco de limão e esquenta a heroína. Ele enche a seringa.)
GH – (Procura uma veia com dificuldade.)
T – (Injeta no canto
do olho de GRAHAM.)
Conta até dez de
trás pra frente.
GH – Dez, nove, oito
T – Tuas pernas tão pesadas.
GH – Sete, seis, cinco
T – Tua cabeça tá leve.
GH – Quatro. Quatro. Cinco
T – A vida é doce.
GH – É o que tá parecendo.
Eles se olham
GH – (Sorri.)
T – (Desvia o olhar.)
GH – Obrigado, Doutor.
Ele desmaia.
T – Graham?
Silêncio.
T – Quatro.
Três.
Dois.
Um.
Zero.
CENA 2
ROD e CARL estão sentados na grama logo do lado de dentro da cerca da
universidade.
Meio do verão – O sol
está brilhando.
O som de uma partida
de cricket vindo do outro lado da cerca.
CARL tira seu anel.
C – Pode me dar o seu anel?
R – Eu não vou ser o seu marido, Carl.
C – Como é que você sabe?
R – Eu não vou ser marido de ninguém.
C – Eu quero que você fique com o meu anel.
R – Pra quê?
C – Um sinal.
R – De quê?
C – Compromisso.
R – Você me conhece há três meses. Isso é suicídio.
C – Por favor.
R – Você morreria por mim?
C – Sim.
R – (Estende a mão.)
Não tô gostando nada disso
C – (Fecha os olhos e
põe o anel/aliança no dedo de Rod.)
R – Quê que você tá pensando?
C – Que eu sempre vou amar você.
R – (Ri.)
C – Que eu nunca vou te trair.
R – (Ri mais.)
C - Que eu nunca vou mentir pra você.
R – Acabou de mentir.
C – Meu bem
R – Querido Meu amor Meu bem. Você me ama tanto, e não
lembra o meu nome?
C – Rod.
R – Rod. Rod.
C – Me dá o seu anel?
R – Não.
C – Por quê não?
R – Eu não morreria por você.
C – Tudo bem.
R – Eu não posso te prometer nada.
C – Eu não me importo.
R – Eu me importo.
C – Por favor.
R – (Tira o anel dele
e entrega para CARL.)
C – Você não vai pôr ele no meu dedo?
R – Não.
C – Por favor.
R – Não.
C – Eu não espero nada em troca.
R – Espera sim.
C – Você não precisa dizer nada.
R – Preciso sim.
C – Por favor, Meu bem
R – Caralho –
C – Rod, Rod, por favor, desculpa
R – (Pega o anel da
mão de Carl.)
Escuta. Só vou
te dizer isso uma vez.
(Ele põe o anel no dedo de Carl.)
Eu te amo agora.
Tô com você agora.
Eu vou fazer o
meu melhor, minuto a minuto, pra não te trair.
Agora.
É isso. Mais
nada. Não me faz mentir pra você.
C – Eu não tô mentindo pra você.
R – Cresce.
C – Nunca vou te dar as costas.
R – Qualquer um que você imaginar, alguém em algum lugar,
vai tá de saco cheio de trepar sempre com a mesma pessoa.
C – Por quê você é tão cínico?
R – Eu sou velho.
C – Você tem 34.
R – 39. Eu menti.
C – Fica quieto.
R – Não confia em mim.
Pausa
C – Eu confio.
Eles se beijam
TINKER está assistindo
CENA 3
A Sala Branca – a
enfermaria da Universidade
GRACE está de pé sozinha
esperando
TINKER entra consultando
uma lista
T – Ele morreu há seis meses. Nós normalmente não guardamos
as roupas tanto tempo.
GR – O quê que acontece com elas?
T – São recicladas. Ou incineradas.
GR – Recicladas?
T – É preferível incinerar, mas-
GR – Vocês dão pra alguém?
T – É.
GR – E isso não é muito anti-higiênico?
T – Ele morreu de overdose.
GR – Então por que queimar o corpo dele?
T – Ele era um viciado.
GR – Vocês acharam que ninguém ia se importar?
T – Eu não tava aqui na hora.
GR – Eu preciso ver as roupas dele.
T – Eu lamento.
GR – Vocês deram as roupas do meu irmão para outra pessoa.
Eu não vou sair daqui até ver essas roupas.
T – (Não responde).
GR – O quê isso interessa pra você? Me dá as roupas dele.
T – Eu não tenho permissão de deixar ninguém sair do Campo.
GR – Eu só preciso ver
T – (“considera”.
Então vai até a porta e chama.)
Robin!
Eles esperam. Entra um
garoto de 19 anos.
T – Tão aí.
GR – (Para ROBIN.)
Tira a
roupa.
RB – Senhora?
GR – Grace
T – Tira.
RB – (Tira a roupa e
fica de cueca.)
GR – Toda.
RB – (Olha para TINKER)
T – (Considera, então
assente)
ROBIN tira a cueca e fica
tremendo por dentro com as mãos cobrindo a genitália.
GRACE se despe
completamente
ROBIN assiste apavorado
TINKER olha pro chão
GRACE veste as roupas de ROBIN/GRAHAM
Quando está
completamente vestida, ela fica de pé
Por alguns momentos,
paralisada.
Ela começa a tremer
Ela desmorona e começa
a gemer se lamentando, descontrolada
Ela “colapsa”
TINKER a carrega até uma
cama
Ela é amarrada. Ele
algema ambos os braços na cabeceira da cama.
Ele injeta nela. Ela
relaxa.
TINKER acaricia seus
cabelos.
GR – Eu não vou sair daqui.
T – Vai. Você não vai encontrar ele aqui.
GR – Eu quero ficar.
T – Não é certo.
GR – Mas eu já tô ficando.
T – Você vai ser removida.
GR – Eu pareço com ele. Diz que você pensou que eu fosse um
homem.
T – Eu não posso te proteger.
GR – Eu não quero que você proteja.
T – Você não devia estar aqui. Você não tá bem.
GR – Me trata como um paciente.
T – (“Considera” em
silêncio. Então pega um frasco de pílulas do seu bolso.)
Mostra a
língua.
GR – (Põe a língua pra
fora).
T – (Põe uma pílula na
língua dela.)
Engole.
GR – (Engole.)
T – Eu não sou responsável, Grace.
Ele sai.
GRACE e ROBIN se encaram, ROBIN ainda está nu, com as mãos cobrindo a genitália.
GR – Se veste.
RB – (Procura as
roupas de GRACE no chão e se veste.)
GR – Escreve pra mim.
RB – (Pisca)
GR – Eu preciso de você pra avisar meu pai que eu tô ficando
aqui.
Pausa
RB – Tô indo embora daqui a pouco. Pra casa da minha mãe.
GR – (Encara)
RB - Se eu não me embaralhar de novo.
Vô pra minha
mãe, eu tomei jeito então eu -
Tomei jeito.
GR – (Encara)
RB – Quê que tu tá fazendo aqui, não tem mulé aqui.
Me encarando.
GR – Escreve pra mim. (ela balança as algemas)
R – A voz disse preu me matar.
GR – (Encara)
R – Tô seguro
agora. Ninguém se mata aqui.
GR – (Encara)
R – Ninguém qué
morre.
GR – (Encara)
R - Eu não quero
morrê, tu qué morre?
GR – (Encara)
R – Pode sê logo
logo, to indo embora.
Pode sê daqui há trinta, o Tinker disse.
Pode sê –
GR – Você não sabe escrever, né?
R – (Abre a boca para responder mas não consegue pensar
em nada pra dizer.)
GR – Não é o fim do
mundo.
R – (Tenta falar. Nada.)
CENA 4
A Sala Vermelha – O
ginásio da Universidade.
CARL está sendo
fortemente espancado por um grupo de homens invisíveis.
Nós escutamos os sons
das pancadas e o corpo de CARL reage
como se recebesse a pancada.
TINKER levanta o braço as
pancadas param
Ele abaixa o braço. As
pancadas voltam.
C – Por favor, Doutor. Por favor.
TINKER levanta o braço.
As pancadas param.
T – Sim?
C – Eu não posso-
Não posso mais-
TINKER abaixa o braço.
A pancadaria continua
metodicamente até CARL ficar inconsciente
TINKER levanta o braço.
T – Não mata ele não.
Poupa ele.
Ele beija gentilmente
o rosto de CARL.
C – (Abre os olhos.)
T - Tem uma passagem vertical através do seu corpo, uma
linha reta, através dela um objeto pode passar sem te matar imediatamente.
Começa aqui.
Ele toca o ânus de CARL.
C - (enrijece de
medo.)
T - Pode se pegar uma vara, empurrar por aqui, evitando os
órgãos importantes, até ela chegar aqui.
(toca o ombro
direito de CARL)
É claro que
eventualmente se morre. De inanição se nada te levar primeiro.
As calças de CARL são arriadas e um bastão empurrado
ânus adentro.
C - Cristo. Não.
T – Qual é o nome do seu namorado?
C – Jesus.
T – Você pode descrever a genitália dele?
C – Não.
T – Quando foi a última vez que você chupou o pau dele?
C – Eu
T – Você botou ele no rabo?
C – Por favor.
T – Não quer entregar, tô vendo.
C – Não.
T – Fecha os olhos e imagina que é ele.
C – Por favor Deus eu não.
T – Rodney Rodney me rasga no meio.
C – Por favor Deus não me mata porra.
T – Eu te amo Rod eu morreria por você.
C – Eu não. Por favor eu não não me mata o Rod não eu
Não me mata o
Rod eu não o Rod eu não.
A vara é removida
ROD cai de uma grande altura perto de CARL
Silêncio.
T – Eu não vou matar nenhum dos dois
C – Eu não pude evitar, Rod, saiu da minha boca antes que
eu-
T – Shh shh
shh
Sem lamentações
(Ele acaricia o cabelo de CARL)
Mostra a língua.
CARL põe a língua
pra fora
TINKER saca uma grande tesoura e corta a língua de CARL fora.
CARL balança os braços,
com a boca aberta cheia de sangue, nenhum som sai.
TINKER tira o anel do dedo de ROD e põe na
boca de CARL.
T – Engole.
C – (Engole o anel.)
CENA 5
A Sala Branca
GRACE está deitada na
cama.
Ela acorda e fita o
teto.
Ela tira as mãos de
baixo dos lençóis e olha pra elas-
Elas estão livres.
Ela esfrega os pulsos.
Ela senta.
GRAHAM está sentado no
fim da cama.
Ele sorri pra ela.
GH – Oi, Luz do sol.
Silêncio
GRACE encara-o
Ela o beija no rosto o
mais forte que ela pode,
depois o abraça o mais
forte possível.
Ela segura o rosto
dele e olha fixamente pra ele.
GR – Você tá limpo.
GH – (Sorri)
GR – Não me deixa nunca mais.
GH – Não.
GR – Jura.
GH – Pela minha vida.
Pausa. Eles se olham
em silêncio.
GH – Cê tá mais parecida comigo do que eu jamais fui.
GR – Me ensina.
GRAHAM dança – Uma dança
de amor para GRACE
GRACE dança em frente a
ele copiando os movimentos dele
Gradualmente, ela
toma a masculinidade de seus movimentos, suas expressões faciais. Finalmente,
ela não o assiste mais.
Ela o espelha
perfeitamente enquanto eles dançam exatamente ao mesmo tempo.
Quando ela fala, a voz
dela fica mais parecida com a dele.
GH – Você é boa nisso.
GR – Boa nisso.
GH – Muito boa.
GR – Muito boa.
GH – Muito Muito boa
GR – Muito Muito boa.
GH – (Pára e a
observa)
Eu nunca me conheci, Grace –
Gr – (Pára de
espelhá-lo, confusa.)
Você sempre foi um anjo.
GH – Não eu só parecia bom.
(Ele sorri da confusão dela e a toma
nos braços)
Não é tão
sério assim. Você fica linda quando sorri.
Eles começam a dançar
lentamente, bem juntos
Eles cantam o primeiro
verso de “You Are My Sunshine” de Jim Davis e Charles Mitchell.
As vozes deles vão
baixando e eles se encaram de pé.
Gr – Eles queimaram teu corpo.
GH – Eu tô aqui. Eu fui embora, mas agora eu tô de volta e
nada mais importa.
Eles se encaram
Ela toca o rosto dele.
GR – Se eu-
(Ela toca os lábios dele.)
Puser meu-
(Ela põe o dedo dela na boca dele
Eles se encaram, assustados.
Ela o beija muito levemente nos
lábios.)
GR – Me ama ou me mata, Graham.
Ele hesita.
Então a beija suave e
gentilmente a princípio, depois mais forte e profundamente.
GH – Eu costumava...pensar em você e ...
Eu
costumava...queria que fosse você quando eu...
Costumava...
GR – Não importa.
Você foi embora, mas agora você tá de volta e nada mais importa.
GRAHAM tira a blusa dela e olha para seus seios.
GH – Agora não faz diferença.
Eles tiram o resto das
roupas, um assistindo ao outro.
Eles ficam de pé nus e
olham para o corpo um do outro
Eles lentamente se
abraçam.
Eles começam a fazer
amor, bem de vagar a princípio,
Depois mais forte,
rápido, urgente, fazendo o ritmo do outro se tornar o seu.
Eles gozam juntos
Eles se abraçam,
Um girassol nasce do
chão e cresce sobre as cabeças deles.
Quando ele está
completamente crescido, GRAHAM
puxa-o até ele e o cheira.
Ele sorri.
GH –Lindo.
CENA 6
A Sala Negra – Os chuveiros do ginásio da
Universidade convertido em cabines de Peep Show.
Entra TINKER
Ele senta numa cabine.
Ele tira sua jaqueta e põe no colo.
Ele abre as calças e põe a mão dentro.
Com a outra mão põe uma ficha no buraco.
A janela se abre e ele olha pra dentro.
Uma MULHER
está dançando.
TINKER
assiste durante um tempo se masturbando.
Ele pára e olha para o chão.
T – Não dança, eu-
Posso ver o seu
rosto.
A MULHER pára de dançar e considera.
Depois de um momento
ela senta.
T – (Não olha pra ela.)
M – (Espera.)
T – Quê que cê tá fazendo aqui.
M – Eu gosto.
T – Isso não é certo.
M – Eu sei.
T – Podemos ser amigos?
A janela fecha.
TINKER põe mais duas
fichas.
A janela abre.
A MULHER está dançando.
T – Não, eu-
Seu rosto.
M – (Senta.)
T – (Não olha pra
ela.)
Quê que cê tá
fazendo aqui?
M – Não sei.
T – Você não devia tá aqui. Não é certo.
M – Eu sei.
T – Eu posso te ajudar.
M – Como?
T – Eu sou médico.
M – (Não responde)
T – Você sabe o que isso quer dizer?
M – Sei.
T – Podemos ser amigos?
M – Eu acho que não.
T – Não, mas –
M – Não.
T – Eu vou ser qualquer coisa que você precise.
M – Você não pode.
T – Posso sim.
M – Tarde demais.
T – Deixa eu tentar.
M – Não.
T – Por favor. Eu não vou te decepcionar.
M – (Ri.)
T – Confia em mim.
M – Por quê?
T – Eu não vou te dar as costas.
M – Nem vai me encarar, também
T – Eu vou te dar o que você quiser, Grace.
M – (Não responde.)
T – Olha no rosto dela
pela primeira vez
Eu prometo
A janela fecha
TINKER
não tem mais fichas.
CENA 7
A
Sala Redonda – A biblioteca da Universidade.
GRACE
e ROBIN sentam juntos olhando
para um pedaço de papel.
Ambos usam a roupa do
outro.
ROBIN segura um lápis.
GRAHAM assiste.
GR – É como falar sem usar a sua voz. Algumas palavras que
você usa o tempo todo. Cada letra corresponde a um som. Se você lembrar que som
corresponde a que letra você pode começar a construir palavras.
RB – Essa letra num parece com o som dela.
GR – R
RB – Essa aqui parece/ mas essa aqui não.
GR – O. Você sabe o que palavra é essa quer/ diz?
RB – Robin, eu sei que é o meu nome porque tu me disse.
GR – Tudo bem, eu quero que você escreva uma palavra-
RB – Grace.
GR – Meu nome, então pensa que parece com o som dele.
RB – (Olha pra ela e
pensa. Ele sorri e começa a escrever, segurando “desajeitadamente” o lápis,
botando a língua pra fora como se estivesse muito concentrado.)
GH – Meninos.
GR – (Sorri pra GRAHAM)
RB – Senhora?
GR – Eu tenho nome.
RB – Grace, tu já teve um namorado?
GR – Já.
RB – Como é que ele era?
GR – Ele me comprou uma caixa de bombons depois tentou me
estrangular.
RB – Bombom?
GH – Aquele menino negro?
RB – Tinha um rosa?
GR – Não é sobre cor, não passa por aí.
RB – Qual era o nome dele?
GR – Graham.
RB_ Seu namorado.
GH
GR – Paul.
Se concentra.
RB_ Você ainda ama ele?
GH
GR – Por favor.
RB – Não, mas você?
GR – Eu-
Não.
Nunca.
RB – Você-
GH – Fudeu com ele.
GR – Sim
Eu fiz isso
Eu fiz isso.
RB – Ah
Silêncio
Robin escreve
RB_ Gracie
GH
GR – O quê?
RB – Se tu pudesse trocá uma coisa na sua vida o que tu
trocava?
GR – Minha vida.
RB – Não uma coisa na sua vida.
GR – Não sei.
RB – Não, mas diz uma coisa.
GR – Muita coisa pra escolher.
RB _ Mas escolhe.
GH
GR – Isso é loucura.
RB – Tu não ia gostar que o teu irmão voltava?
GR – O quê?
RB – Não ia gostar que o Graham tivesse vivo?
GRAHAM e GRACE riem
GR – Não. Não.
Eu não penso
no Graham como morto.
Não é assim
que eu penso nele.
RB – Cê acredita em céu, paraíso?
GR – Não.
RB – Não acredita em paraíso não acredita em inferno.
GR – O paraíso eu não posso ver.
RB – Se eu tivesse um pedido eu ia gostar que o Graham vivia
de novo.
GR – Você disse trocar uma coisa na sua vida não ter um
pedido.
RB – Então ia trocá o Graham morto pelo Graham vivo.
GR – Graham não é uma coisa pra se trocar. E ele não é da
sua vida.
RB – É sim.
GR – Como?
RB – Me dero as roupa dele.
TINKER está assistindo.
GR – Não precisa, Robin.
Não parece que ele tá morto.
GH _ O que você ia trocar?
RB
GR – Meu corpo. Então ele ia ficar mais parecido com como
ele se sente.
Graham por
fora que nem Graham por dentro.
RB _ Eu acho que você
tem um corpo ótimo.
GH
GR – Valeu. Eu acho é que você deve escrever essa palavra
agora.
RB – Minha mãe não seria minha mãe se eu tivesse que
escolher outra, eu escolheria você.
GR – Fofo.
RB – Se eu-
Se eu fosse
casá eu ia casá com você.
GR – Ninguém casaria comigo.
RB _ Eu casaria.
GH
GR – Não é possível
RB – Nunca beijei uma garota antes.
GR – Você vai.
RB – Não aqui eu não vou. Só se for tu.
GR – Eu não sou assim, uma garota, não.
RB – Num ligo.
GR_ Eu ligo.
GH
RB – Eu não
GR – Escuta. Se eu fosso beijar alguém aqui, eu não vou, mas
se fosse ia ser você.
RB_
É?
GH
GR – Com certeza
Se.
Mas.
RB – (Comemora e volta
para sua escrita)
Pausa longa.
RB – Grace
GR – Humm
RB_ Eu amo você.
GH
GR – Eu-
Eu amo você
também. Mas de uma maneira muito especial.
RB – É?
GR – Robin, eu-
RB – Tu vai?
GR _ Não.
GH
RB – Sê minha namorada?
GR – Você é um garoto muito
bonzinho-
RB – Eu não vô te estrangulá
GR – Um bom amigo mas-
RB – Tô apaixonado por você
GR – Como você pode?
RB – Eu só tô-
Eu conheço
você-
GR – O Tinker me conhece-
RB – E eu amo você.
GR – Muitas pessoas me conhecem, e elas não tão apaixonadas
por mim.
RB _ Eu tô.
GH
GR – Tô ficando confusa.
RB – Só quero te beijá, não vou te machucá, eu juro
GR – Quando você for embora-
RB _ Nunca.
GH
GR – Quê?
RB – Num quero saí.
GR – Isso é-
RB – Quero ficá com você.
GR – Quê que você tá dizendo?
RB – Eu tô gostando daqui.
TINKER entra pega a folha
de papel de ROBIN e olha.
T – Que porra é essa?
RB – Flor.
TINKER acende um isqueiro
e queima a folha inteira.
RB – Ela tem cheiro de flor.
CENA 8
Uma
poça de lama perto do lado direito da cerca da Universidade.
Está chovendo.
O som de uma partida de futebol do outro lado
da cerca.
Um único rato corre
entre ROD e CARL.
R – Meu bem
C – (Olha para ROD.
Ele abre a boca. Não sai nenhum som.)
R – Você devia ter visto eles me crucificando.
C – (Tenta falar.
Nada. Ele bate no chão frustrado.)
CARL apalpa na lama e começa a escrever enquanto
ROD fala.
R – E os ratos comeram o meu rosto. E daí? Eu teria feito o
mesmo só que eu nunca disse que eu não faria. Você é jovem. Eu não te culpo. Não
se culpe. Não é culpa de ninguém.
TINKER está assistindo.
Ele deixa CARL
terminar o que está escrevendo então vai até ele e lê.
Ele pega CARL
pelos braços e corta suas mãos.
TINKER sai.
CARL tente pegar as mãos dele- ele não consegue,
ele não tem mãos.
ROD vai até CARL. Ele cata a mão
esquerda decepada e tira o anel que ele havia posto lá.
Ele lê a mensagem
escrita na lama.
R – “Diz que você me perdoa” (Ele põe o anel.)
Eu não vou
mentir pra você Carl.
O rato começa a
comer a mão direita de CARL.
CENA 9
A
Sala negra
TINKER entra na sua
cabine
Ele senta
Ele põe uma ficha
A janela abre
A MULHER está
dançando.
TINKER assiste por um
momento
M – Oi, Doutor.
T – Grace, eu –
Seu rosto.
A MULHER
senta eles se olham.
T –
Somos amigos?
M – Você vai me ajudar?
T – Eu te disse.
M – Sim.
T – O que eu devo fazer?
M – Me salva.
A janela fecha
Ele não tem mais
fichas.
CENA 10
A Sala Vermelha.
GRACE está sendo
espancada por um grupo de homens invisíveis cujas vozes ouvimos.
Nós ouvimos o som de
tacos de baseball espancando GRACE e
ela reage como se tivesse recebido a pancada.
GRAHAM está assistindo
aflito.
GRACE apanha.
GR – Graham.
VOZES – Tá morto, vagabunda.
Ela
transava com o irmão.
Ele não era bicha?
Usuário de merda
Todo
seqüelado
Não
porra
Sim
porra
Seqüela Seqüela Seqüela
GRACE leva uma pancada em cada seqüela.
GR – Graham meu Deus me salva.
VOZES – Ele nunca (Seqüela/Chicotada)
nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/ Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) nunca (Seqüela/Chicotada) vai poder salvar
você (Seqüela/Chicotada).
GH – Grace.
VOZES – Nunca (S/C
–|som de chicotada|)
Paralisação // Pausa
GRACE fica deitada imóvel com pavor de virem mais
pancadas.
GH – Fala comigo.
GR – (Não se move nem
faz nenhum som)
GH – Não vai te machucar, Grace. Não pode te tocar.*
GR – (Não se move nem
faz nenhum som)
GH – Nunca.
Vem uma S/C do
nada fazendo GRACE berrar.
VOZES – A baranga ainda tá viva.
GH – Desliga a sua cabeça. Era o que eu fazia. Levantada a
bola e desligava antes que a dor chegasse. Eu pensava em você.
Há uma enxurrada
de pancadas que o corpo de GRACE reage, mas ela não faz nenhum som.
GH – Eu costumava pôr minha colher no meu chá e esquentar.
Quando você não tava olhando eu encostava a colher no seu braço e você (S/C) gritava e eu ria. Faz comigo.
GR – Faz comigo.
GH – Você encostou uma colher quente em mim e eu não senti
nada.
Eu sabia que ela tava vindo.
Se você sabe
que tá vindo você tá preparada.
Se você sabe que tá vindo-
GR – Tá vindo.
A pancada vem. O
corpo de GRACE se move- não com dor, simplesmente com a força da
pancada.
GH – Você pode embarcar nisso.
VOZES – Faz comigo
Fode a vagabunda (“Shag the
slag”)*
GRACE é estuprada por uma das vozes.
Ela olha dentro dos
olhos de GRAHAM durante todo o tempo.
GRAHAM segura a cabeça dela nas mãos.
VOZES – Amordaçando por isso
Implorando por isso
Arquejando por isso
Ansiando isso
Ela
se foi?
Nem
um pio
GRAHAM pressiona a sua mão em cima de GRACE
e as roupas dela se tornam vermelhas onde ele toca, sangue traspassando.
Simultaneamente seu
próprio corpo começa a sangrar nos mesmos lugares.
GH – Meu bem, meu
bem, meu bem.
VOZES – Mata todo mundo.
Uma pausa.
Então uma longa rajada
de metralhadora//pistola automática.
GRAHAM protege o corpo de GRACE com o seu
próprio e segura a cabeça dela entre as mãos.
Os tiros vêm e vão.
As paredes são esburacadas
por marcas de balas e o tiroteio continua, grandes pedaços de reboco e tijolo
despencam da parede.
A parede é
despedaçada e banhada de sangue.
Depois de alguns
minutos, o tiroteio cessa.
GRAHAM descobre o rosto de GRACE e olha
para ela.
Ela abre os olhos e
olha para ele.
GH – Ninguém. Nada. Nunca.
Nascem do chão
narcisos.
Eles explodem, e o seu
amarelo cobre todo o palco.
Entra TINKER.
Ele vê GRACE.
VOZES – Todo mundo morto?
T – Ela não.
Ele vai até GRACE
e ajoelha a o lado dela.
Ele pega a mão dela.
T – Eu tô aqui pra te salvar.*
GRAHAM colhe uma flor e cheira.
Ele sorri.
GH – Lindo.
(“Lovely”)
CENA 11
A Sala Negra.
ROBIN
entra na cabine que TINKER visita.
Ele senta.
Ele põe a única ficha que tem.
A janela abre.
A mulher está dançando
ROBIN
assiste-no início inocentemente ávido, depois confuso, depois aflito.
Ela dança por sessenta segundo.
A janela fecha.
ROBIN
senta e chora muito.
CENA 12
A Sala Branca.
GRACE
está deitada tomando banho de sol de uma pequena rachadura do teto.
GRAHAM
está de um lado dela, TINKER
do outro.
T – Quê que cê tá
querendo?
GR – Sol.
GH – Não vai dar
pra pegar um bronze.
T – Você pode ter
lá fora.
GR – Eu sei.
VOZES – Queima
“careta” *
GR – Segura a
minha mão.
GH – Luz do sol.
GRAHAM pega uma mão TINKER a
outra.
GR – Tô com dor no
saco.
T – Você é mulher.
VOZES – Grace
maluca.
GR – Gosto de
sentir você aqui.
GH – Sempre vou tá
aqui.
E aqui.
E aqui.
GR – (Ri. Depois séria de repente) Eles continuam
gritando para mim.
T – É o que eu te
digo.
GH – Me ama ou me
mata.
T – Posso fazer
você melhorar.
GR – Amo você.
GH – Jura.
T – É.
GR – Pela a minha
vida.
GH – Não me deixa
ir embora
GR – Graham-
VOZES – TORRA
T – É Tinker.
VOZES – QUEIMA
GR – Querido.
VOZES – TOR-
T – Confia em mim.
VOZES – Hora de
ir.
TINKER solta a mão de GRACE.
É ligada uma corrente elétrica
O corpo de GRACE é tomado por um
grande choque como se pedaços de seu cérebro estivessem sendo queimados.
O feixe de luz cresce até engolfar eles todos
Isso se torna cegante.
CENA 13
A poça de lama perto da cerca.
Está chovendo
Uma dúzia de ratos dividem o espaço com ROD e CARL.
R – Se você
tivesse dito “Eu”, me pergunto o que teria acontecido. Se ele tivesse dito
“Você ou Rod” e você tivesse dito “Eu”, me pergunto se ele teria te matado.
Toda vez que ele me perguntar eu vou dizer “Eu. Faz isso comigo. Não com Carl,
não com meu amor, não com meu amigo, faz isso comigo”. Eu queria ir no primeiro
barco para fora desse lugar. *
A morte não é a
pior coisa que podem fazer com você. O Tinker fez um cara arrancar os “saco” do
outro a dentada. Pode se tomar a sua vida sem te dar a morte em troca.
Do outro lado da cerca uma criança canta
“Things we say today” de Lennon e McCartney.
CARL e ROD escutam de
repente
A criança para de cantar
Depois começa de novo
CARL fica de pé, se balançando.
Ele começa a dançar- uma dança de amor para ROD
A dança se torna, delirante, frenética e CARL
faz uns grunhido que se fundem com o canto da criança
A dança perde o ritmo- CARL dança
espasmodicamente fora do ritmo
Os pés arrastando na lama, uma dança
espasmódica de desesperado arrependimento.
TINKER está assistindo.
Ele derruba CARL no chão e corta seus
pés.
Ele se vai.
ROD ri.
Os ratos levam embora os pés de CARL.
A criança canta.
CENA 14
A Sala Negra.
TINKER vai
para a sua cabine
E abre o fecho-eclair das calças e senta
escarranchado no encosto da cadeira
Ele põe algumas fichas no compartimento.
A janela se abre, a mulher está dançando.
TINKER se
masturba furiosamente até ela falar.
MULHER – Doutor.
T – Não gasta a
porra do meu tempo. Senta.
M – (Senta em frente a TINKER)
T – Abre as
pernas.
M – Tô confusa.
T – ABRE A PORRA
DAS PERNAS.
M – (Abre.)
T – Olha.
M – (Olha.)
T – Se toca.
M – (Soluça.)
T – TOCA PORRA
TOCA.
M – Eu não faço
isso.
T – VOCÊ NÃO QUER
QUE EU TE AJUDE.
M – Quero.
T – ENTÃO TOCA.
M – Eu não quero
que seja assim.
T – Você é uma
mulher, Grace.
M – Eu quero-
T – Não diz.
M – Você disse-
T – Eu menti. Você
é o que você é. Sem lamentações.
M – O que eu
quisesse.
T – Eu não sou
responsável.
M – Eu confiei em
você.
T – É.
M – Amigos.
T – Acho que não.
M – Eu posso
mudar.
T – Você é uma
mulher.
M – Você é um
médico. Me ajuda.
T – Não.
M – É por causa de
outra pessoa.
T – Não.
M – Eu te amo.
T – Por favor.
M – Eu pensei que
você me amasse.
T – Como você é.
M – Então me ama porra, me ama.
T – Grace.
M – Não me dá as costas.
A Janela fecha.
T – Se eu soubesse
Se eu soubesse
Eu sempre soube.
CENA15
A sala redonda.
ROBIN está sonolento,
entre uma pilha de livros, papéis e um ábaco de 11 colunas.
Ele ainda tem um lápis
na mão
Tem uma caixa de
bombons perto de sua cabeça.
TINKER entra e fica de pé
olhando para ele
Ele suspende ROBIN pelo cabelo.
ROBIN berra TINKER põe uma faca na garganta dele.
T- Você fudeu com ela?
Fudeu até o nariz
dela sangrar?
Eu posso ser um
escroto mas eu não sou otário.
(ele vê os bombons.)
Onde você
conseguiu isso?
Ã?
Ã?
RB - É pra Grace.
T - Onde você
conseguiu isso?
RB - Comprei.
T - Como, dando o
cú?
RB - (não responde.)
TINKER solta ROBIN.
Ele abre os Bombons.
Pega um e enfia na cara de ROBIN.
T- Come.
ROBIN come soluçando
TINKER Enfia outro.
Robin Come.
TINKER Enfia outro.
Robin Come.
TINKER Enfia outro.
Robin Come.
TINKER Enfia outro.
Robin Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
Acaba a parte de cima da caixa, TINKER
tira o papel vegetal que cobre o outro nível joga fora. Começa a pegar os
bombons de baixo.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER Enfia outro.
ROBIN Come.
TINKER joga a caixa vazia nele e
percebe que ROBIN se mijou.
T- Seu pervertido
imundo, limpa isso.
ROBIN fica de pé na poça,
angustiado.
TINKER pega a cabeça de ROBIN
e força para baixo, esfregando seu rosto na própria urina.
T- Limpa isso
mocinha.
ROBIN olha em volta em pânico.
Ele tenta usar a caixa vazia de Bombons para
limpar a urina, mas ela espalha mais.
Ele rasga alguns livros que estão perto e
seca o desastre.
Ele olha para os livros atarantado.
RB- A Grace.
T- (enfia na cara de ROBIN uma caixa de
fósforos.)
RB- (olha para TINKER.)
T- (olha de volta para ROBIN.)
RB- (empilha os livros e os queima.)
T- Todos.
ROBIN queima quantos livros ele pode
e assiste eles indo em chamas.
GRACE entra, com o olhar vago e
tranqüilizada, com GRAHAM.
Ela assiste.
ROBIN sorri nervosamente.
RB- Desculpa. Tava
frio.
GRAHAM guia GRACE até o fogo.
Ela esquenta as mãos no calor das chamas.
GC- Lindo- (“Lovely”)
CENA 16
A poça de lama perto da cerca.
Um calor escaldante
Som de fogo
A maioria dos ratos está morta.
Os poucos que restaram correm de um lado para
o outro freneticamente.
ROD - Só existe o agora.
(ele chora)
CARL - (abraça ele.)
R - Tá tudo como
deveria estar.
CARL o beija.
Faz amor com ROD.
R - Eu sempre vou
amar você.
Eu nunca vou mentir pra você.
Eu nunca vou te traia.
Na minha vida.
Ambos gozam
ROD tira o anel e põe na boca de CARL.
CARL engole. Ele chora.
Eles se abraçam apertado, depois vão se
deitar enroscados.
TINKER está assistindo.
Ele puxa ROD de CARL.
T - Você ou ele,
Rod, Qual vai ser?
R - Eu. O Carl
não. Eu.
T - (corta a garganta de ROD.)
C - (se debate para chegar até ROD. Ele
está Preso.)
R - Não precisava
ter sido assim.
(morre.)
T - Queima ele.
CENA17
A
sala redonda
ROBIN, GRACE e GRAHAM estão perto das cinzas do fogo.
GRACE ainda está
esfregando as mãos de vagar e as mantém lá como se houvessem brasas.
ROBIN recupera seu ábaco
das cinzas
Ele o mostra para GRACE
Ela não responde.
RB- Tava trabalhando com uns
número. Achei que tivesse estragado.
GC- (não responde.)
RB- Posso te mostrá?
GC- (não responde.)
RB- Tá eu vou-
Os dias que
faltam. Tentá.
(ele conta as contas de uma das
fileiras.)
1.2.3.4.5.6.7.
(ele olha para as sete contas, depois
lentamente move uma conta da fileira seguinte.)
1.
(ele conta as contas das fileiras três
até oito.)
1.2.3.4.5.6.7.8.9.10.11.12.13.14.15.16.17.18.19.20.21.22.23.24.25.26.27.28.29.30.31.32.
33.34.35.36.37.38.39.40.41.42.43.44.45.46.47.48.49.50.51.52.
(ele olha para as contas.)
52 setes.
(ele lentamente move uma conta da
fileira seguinte.)
1.
(ele conta as contas das3 fileiras
seguintes.)
1.2.3.4.5.6.7.8.9.10.11.12.13.14.15.16.17.18.19.20.21.22.23.24.25.26.27.28.29.30.
Trinta
cinqüenta e dois setes.
Gracie.
GC- (não responde.)
ROBIN tira a meia calça dele (de
Grace) e faz uma laçada.
Ele pega uma cadeira e
fica de pé nela.
Ele prende a laçada no
teto e põe no pescoço.
Ele fica de pé em
silêncio por alguns minutos.
RB-
Gracie.
Gracie.
Gracie.
Gracie.
Gracie.
Gracie.
Por favor,
Moça.
A cadeira é
puxada de baixo de ROBIN ele se debate.
TINKER está assistindo.
GH- Ele tá morrendo, Grace.
GRAHAM olha para ROBIN.
ROBIN olha para GRAHAM- Ele vê
ele.
Ainda sufocando, ROBIN
estende a mão para GRAHAM.
GRAHAM Pega.
Depois enrosca os
braços em volta das pernas de ROBIN e puxa.
ROBIN morre.
GRAHAM senta embaixo das pernas pendentes de ROBIN.
TINKER vai até GRACE e pega a mão dela.
T- Diz boa noite
para o pessoal, Gracie.
(ele a leva para
fora.)
GRAHAM está sentado imóvel debaixo do corpo
pendente de ROBIN.
CENA 18
A sala branca.
GRACE está deitada
inconsciente numa cama.
Ela está nua a não ser
uma bandagem enfaixando o seu púbis e o peito, e sangue onde os seios deveriam
estar.
CARL está deitado deitada
inconsciente numa cama.
Ele está nua a não ser
uma ensangüentada bandagem enfaixando o
seu púbis.
TINKER está de pé entre
eles.
TINKER tira a bandagem de
GRACE e olha para o púbis dela.
GRACE desperta.
GC- D- D-
T- O que você queria, espero que eu-
GC- D- D-
TINKER ajuda GRACE a se levantar e guia ela
até o espelho.
GRAHAM entra.
GRACE focaliza o espelho.
Ela abre a boca.
Graham- Acabou.
T- Belo Rapaz.
Como o seu irmão.
Eu espero que
você-
O que você queria.
GC- (toca os seus
genitais costurados.)
D- D-
T- Você gostou?
GC- D-
T- Você ---- vai se acostumar com ele
Não se pode chamar
mais você de Grace
Tem que te chamar
de... Graham. Eu vou te chamar de Graham.
(ele começa a sair.)
Graham - Tinker
T- (se vira e olha
para Grace.)
GR_ Doeu.*
GC
T- Desculpe. Eu não sou médico de verdade.
(ele beija GRACE muito suavemente.)
T_ Tchau, Grace.
GH
TINKER e GRAHAM se viram
Vão embora.
GRACE se olha no espelho
CARL se senta na cama e abre a boca.
Ele olha para GRACE.
Ela olha para ele.
CARL deixa escapar um grito silencioso.
CENA 19
A sala negra.
TINKER entra e se senta.
Ele alimenta o
mecanismo de visão.
A janela abre
A MULHER está dançando
Ela pára e se senta.
Mulher- Oi, Tinker.
Tinker- Oi, meu amor.
M- Como é que cê tá?
T- Ela se foi.
M- Quem?
Longo silêncio
M- Posso te dar um beijo?
T- (sorri.)
A MULHER abre o
compartimento e vai até o lado de TINKER.
Ela o beija.
Ele hesita.
Ela o beija de novo.
Ele a beija.
Ele olha para o chão.
T- Tô confuso.
M- Eu sei.
T- Eu acho que eu-
Mal interpretado.
M- Eu sei. Você é bonito.
T- Grace, ela-
M- Eu sei. Eu te amo.
Eles se olham.
Ela o beija.
Ele corresponde.
Ela tira a parte de
cima do biquíni.
Ele olha para os seios
dela.
M - Eu pensei em você quando eu...
Eu queria que
tivesse sido você quando eu...
T - (recua e olha para ela.)
São os peitos
mais maravilhosos que eu já encontrei.
M - Faz amor comigo, Tinker.
T - Tem certeza?
M - Faz amor comigo.
Ambos se despem,
um assistindo ao outro.
Eles ficam de pé nus
olhando um para o corpo do outro
Eles se abraçam
lentamente.
Eles começam a fazer
amor bem de vagar.
M - Chora.
T - (pára.) Você
tá bem? A gente pode-
M - Não, não eu-
T - Tá doendo você quer que eu pare?
Eles começam a fazer
amor de novo
Muito gentilmente
TINKER começa a chorar
A mulher lambe as
lágrimas dele.
M - Eu adoro seu pau, Tinker
Eu adoro seu pau dentro de mim, Tinker
Me fode, Tinker
Mais forte mais forte mais forte
Goza dentro de mim
Eu te amo, Tinker.
T - (goza.)
Desculpa.
M - Não.
T- Eu não pude-
M- Eu sei.
T- Me fode Me fode Me fode Eu te amo Eu te amo Eu te amo Por
que você gozou?
M- (ri.)
Eu sei. A culpa é
minha.
T- Não, eu-
M- Tudo bem.
Eu te amo.
A maior parte do
tempo.
Eles se abraçam,
ele dentro dela, se se mover.
M- Você tá aqui?
T- Sim.
M- Agora.
T- Sim.
M- Comigo.
T- Sim.
Pausa
T- Qual o seu nome?
M- Grace.
T- Não eu quero saber o-
M- Eu sei, Grace.
T- (sorri) Eu te
amo, Grace.
CENA
20
A poça de lama perto da cerca
Está chovendo
CARL e GRACE estão sentados um perto do outro.
GRACE agora parece e soa
exatamente como GRAHAM. Ela está
usando as roupas dele.
CARL usa as roupas de ROBIN que eram de GRACE
(femininas)
Há dois ratos um
fuçando as feridas de GRACE o outro
as de CARL.
Grace/Graham- Corpo perfeito
Aprisionado nos pensamentos o dia
todo.
Mas dançou como um sonho desconhecido.
Eles já fizeram isso?
Morreram.
Queimaram.
Uma porção de carne carbonizada
arrancada das roupas.
De volta a vida.
Por que você nunca dizia nada?
Amou
A mim
Ouvir uma voz ou pescar um
sorriso
vindo do espelho seu puto como
você ousou me abandonar assim.
Sentia isso.
Aqui. Dentro. Aqui.
E quando eu não sinto, fica sem sentido
Pensar em acordar, fica sem sentido
Pensar em comer, fica sem sentido
Pensar em se vestir, fica sem sentido
Pensar em falar, fica sem sentido
Pensar em só morrer fica completamente sem porra de sentido
Nenhum.
Aqui agora
Seguro. Do outro lado e aqui.
Graham.
(Um longo silêncio)
Sempre vai estar
aqui.
Obrigado, Doutor.
GRACE/GRAHAM olha para CARL.
CARL está chorando
GR/GH – Me ajuda.
CARL estende o braço.
GRACE/GRAHAM segura o coto.
Eles olham para o céu,
CARL está chorando.
Para de chover
O sol aparece,
GRACE/GRAHAM sorri.
O sol fica cada
vez mais brilhante, e o ruído dos ratos cada vez mais alto, até a luz ficar
cegante e o ruído ensurdecedor.